Há anos que acompanho com muita atenção os processos que redundem em projetos culturais de massa, não só em João Pessoa, como em outras grandes referências a exemplo de Recife/Olinda, Salvador e por ai vai. Evidentemente que esse acompanhamento tem também natureza de avaliar onde regredimos, estacionamos ou avançamos, por exemplo, quando se trata de carnaval.
Agora mesmo trago à reflexão os valores praticados pelo Folia de Rua, em João Pessoa, e as cifras que Salvador projeta para o período de carnaval já chegando ao montante de R$ 1 bilhão, segundo a Saltur a nosso PBTur de lá.
Repito: Salvador deve movimentar R$ 1 bilhão no carnaval. Para isso, Governo do Estado e Prefeitura da Capital, inclusive foram adversárias nas eleições passadas, injetaram R$ 80 milhões.
Sei que o tamanho e nível de organização da Bahia há anos são extremamente bem resolvidos por lá mas, só evidenciando os nossos números, lembremos que em João Pessoa, no Folia de Rua e Carnaval Tradição, Governo e Prefeitura resolveram investir R$ 950 mil.
Aqui próximo, os vizinhos Recife e Olinda têm assegurados como participação de recursos públicos no carnaval algo em torno de R$ 32 milhões sabendo de antemão que o retorno financeiro gerando emprego passa dos R$ 500 milhões.
Se tudo isso é verdade, o que acontece entre nós para mantermos a pobreza de Jô, a visão e postura tacanha de sociedade diminuta e sem ousadia? Se fosse como estratégia social mesmo, por opção da população, que preferiria ficar no sossego do carnaval, até que se admitiria a falta de iniciativa multiplicada ao longo dos anos.
Só que, na prática, esta realidade é fruto da incompetência continuada de gestões e mais gestões públicas e privadas descomprometidas com uma política cultural e de eventos à altura de uma cidade e Estado que tem grandes nomes nacionais nas artes, especialmente na Música, mas se contenta com a falta de iniciativa movida em muitos casos pela mesquinhez das brigas políticas à lá 1930.
Agora mesmo, segundo soube por Fonte privilegiada, a Prefeitura de João Pessoa impediu que fosse realizado um Carnaval de sábado a terça – feira do tríduo de Momo simplesmente porque soube da possibilidade do Governo do Estado entrar com parte dos patrocínios, além da SCHIN, TIM, Vitarella, etc, que estavam decidindo-se pelo apoiamento ao evento na capital pessoense.
Estariam no carnaval Lenine, Elba Ramalho, Alceu Valença, Exaltasamba, Jorge Aragão, Tribo de Já, Grupo Revelação, Luiz Caldas, Fuba, Renata Arruda, Liz, Diana Miranda, Olodum, Spok de Frevo, Metalúrgica e Sanhauá, Lulu Santos, Calcinha Preta, Forró Pegado, Claudionor Germano, etc. Este carnaval com essa gente simplesmente foi boicotado. Pode?
Esta é a realidade de doer no coração porque assistimos o crescimento de todos os vizinhos ao longe, perto ou distante, e nós inertes, ababacados e sem perspectiva transformando esperança em frustração antecipada de um processo em que precisamos de gente mais inventiva, mais ousada e mais comprometida com os tempos de industria cultural fomentador de dividas e qualidade.
Esta é a verdade, nua e crua a merecer reação já, logo depois da Folia terminar em 2010, antes que ela seja tragada pela vaidade retrógada de nossas lideranças.
