Saibam tantos quanto queiram que, ontem (quinta-feira) dia de sol de verão em João Pessoa, tivemos na Livraria e Complexo Cultural Zarinha, em Tambaú, a celebração da fase de consolidação literária e de historiador do jornalista Carlos Marcelo, autor da mais completa biografia de Renato Russo.
Há um detalhe nesse contexto a merecer distinção: o famoso autor reverte a lógica conhecida de que ´santo de casa não obra milagres´; ele prova que sim, mesmo precisando ter estado fora da aldeia para compreender e gerar melhor as relações de filho genioso para a fase certa do reconhecimento.
Carlos Marcelo, mais do que um despretensioso Gore Vidal o famoso escritor americano das histórias difíceis de contar fez de seu mergulho sobre a força política de Renato Russo uma oportunidade para o Brasil reler os anos passados da Ditadura quando, mais do que Capital Federal, Brasília era sinônimo de repressão grotesca inaceitável por velhas e novas gerações estas, no livro, personificadas em Renato Russo.
Até o sobrenome inventado significou rebeldia no conceito de ser do poeta, irreverente, musical e fortemente contestador da então ordem escura predominante sobre si.
Mas, como disse, a obra precisava de alguém que pudesse entender a rebeldia como expressão viva de quem a viveu, como é o caso de Carlos Marcelo à época do show memorável de Brasília na condição de refrator da ordem porque para ver o espetáculo transformado em cenas deprimentes precisou sair às escondidas dos pais para ser testemunha da história.
Só os cidadãos e cidadãs de valor distinto conseguem agir assim.
Mas, cá pra nós, como se diz lá no bairro da Torre, vizinho de Jaguaribe, o rapaz que transformou- se em homem e pai tem pedigree desde quando, de calças curtas, compreendeu bem as lições das irmãs do Colégio das Lourdinas e do Sagrado Coração de Jesus ambos colégios de pedagogia densa e formadora de caráter ao lado dos pais.
O autor renomado da mais consistente biografia historiada de Renato Russo é o mesmo cidadão que com seu pai, honrado e reformista educador e engenheiro Carlos Pereira de Carvalho e sua mãe farmacêutica Carmem – até chegar em Brasília e ser Editor Executivo do Correio Braziliense bebeu da fonte da Biblioteca Pública do Estado, pesquisou as primeiras lições de vida até chegar na UNB e se transformar no inquieto Editor de Caderno de Cultura.
Daí em diante foi um pulo. Transformou sua sabedoria ambulante em metaformose bem lapidada para se credenciar como homem de letras em carreira já exitosa depois de 9 anos de pesquisa, não apenas sobre a genialidade musical e política das gerações em torno de Renato Russo, mas sobre um tempo negro da Capital do Serrado que o Brasil pouco deu importância na dimensão agora resgatada por Carlos Marcelo.
Ainda bem que na história sempre se sobressaem os homens cultos comprometidos em traduzir a verdade dos fatos em obras prima da humanidade, no nosso caso oriundo dos berços da Paraíba, mas há muito cultuado nos ares poderosos de Brasília.
Trocando em miúdos, o filho é nosso embora, faz tempo, virou cidadão do mundo. Como diz o poeta, o nome a obra imortaliza.