Além da dor

Para Doda, Ivandro e todos os pais do mundo

São Paulo – De longe, aparentemente, o olhar parece abrangente seja qual for o cenário, mesmo quando o foco percebido exige sentimentos e convivência com a realidade exposta. Pode ser em teses acadêmicas sobre temas diversos, pode ser na dor da ruptura de um ente querido tratado sem igual e que se foi para não voltar.

Daqui, da Paulicéia Desvairada, impressionou-me a dimensão do pranto exposto em Doda – Ivanoi, como figura pública – pela perda sem tamanho e irreparável do gênio impulsivo de Igor, espécie de braço direito-esquerdo, as ‘pernas’, como se diz no popular, de uma vida empreendedora e familiar exemplar.

Como pode, 23 anos apenas interromper tamanho caminho de prosperidade e de vida para alguém que na juventude vivida era só a projeção de luz? Será divino transportar tamanha dor à família, logo agora quando mais se precisa conjugar o verbo viver? Por que exatamente assim um desfecho tão cruel quanto o inesperado do que será de agora a dor em diante?

Perguntas assim, contextos de indagações de vida em si, servem de cortes profundos mais doloridos do que facas comuns de corte material para quem, no caso a família expressa em Doda, olha ao lado e não se conforma com a ausência trágica de Igor.

Soube por muitos do pranto inconsolável, da solidariedade intensa cortando corações de consanguineidade – ou não – pelo temor ou impotência do que significa cada um dos humanos na sua máxima vaidade de querer tudo e não poder conter a partida indesejada de Igor, de vida plena e tanta que expunha com orgulho.

Não sei ao certo quem sofre mais, se são tantos os fossos humanos vividos por cada um que agora como mãe, pai, irmãos, tios, primos, amigos se apercebem da incapacidade humana como se fosse o nada diante do desígnio divino – mesmo quando informando a todos os próximos de Deus da existência de Igor noutro plano sem a conformação que só o tempo dará.

O trauma sem par, o sangue derramado com incapacidade de estancar a dor na memória, a saudade infinita sem admitir a interrupção indesejada, nem mesmo o poder exercido pelo tio amigo e cúmplice serviram ou hão de servir para conter o rumo divino, que faz do trágico um corte e luz profundos a exigir de todos, de cada um, reflexão e postura capazes de sabermos valorizar mais em vida o que se apercebe mais na ausência o valor da carne que produz falas, gestos e ações.

Igor tinha tudo, quase tudo, mas agora quase nada vale tanto quanto sua ausência física que só a memória pode manter viva. E assim, quando sendo assim, só o tempo como senhor da razão, como diz a palavra bíblica, haverá de gerar em Doda e família a compreensão do incompreensivelmente fatal, que é cada vida humana, passível de a cada momento ir embora sem nunca dizer adeus.

Se Igor não merecia a dor, então cultue-se seu exemplo para sempre como ser especial.

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