Juro que existe muita gente neste mundo de nosso Deus sem nunca ter tido o privilégio de usufruir do encanto, em plena vida social, da imortal Clotilde Gomes. Admito, mesmo assim, que, na verdade, todos têm algum amor profundo por ela, quando se admitem e encarnam a condição da vovó dedicada ao lado, de passado e presente comum às mulheres de aura incomum.
Depois que Maria Júlia (in memoriam) se foi para o andar de cima, tive o privilégio de incorporar em Tidinha o amor de filho na forma e conduta que acumulo por sorte do destino quando penso em Elza Menezes e Adalgiza Paiva avós também e amores do meu sustento maternal-emotivo, somente capaz de ser compreensível por quem ama as mães de sangue ou adoção.
Só que, neste momento, meu olhar e dedicação se voltam exclusivamente para Tidinha 93 anos de vida humana e soberana, como se fosse um diamante humano capaz de despertar paixão ininterrupta de admiradores e apaixonados (esposo, filhos, netos e agregados) pela sua grandeza de ser avó, mãe e cidadã no nível comum às mulheres super – especiais.
Nos últimos dias, desde quando a conheci na soberania de distribuir carinho, sinto que tem havido um quê diferente a me incomodar porque perdura um ar de saudade por não mais tê-la na plenitude da vida.
Ultimamente são aparelhos, exames, medicamentos, terapias substituindo nosso afeto tanto que sempre se nutriu e se viu mais satisfeito com carinho, acenos e palavras de conforto, ao contrário da parafernália humana posta à disposição na busca de preservar seu corpo entre nós.
Há, entre todos impotentes, o desespero contido, a ansiedade desmedida a questionar os desígnios e, sobretudo, tornar nosso egoísmo maior do que a dor que Tidinha experimenta no silêncio do monólogo, da viagem particular usufruída diante dos artifícios que jamais substituíram nela a saudade de Olavo, companheiro e seu maior amor do mundo, depois de sua partida.
Nunca mais usufrui do contentamento de vê-la afável, brincando com Bolinha, um elemento inesperado que se transformou em seu brinquedo de zelar por sua dignidade.
Da última vez que soltou palavras ao vento riu da notícia de que vinha a caminho a genética de Pablo, novo neto, pai do mundo, ao lado de Taline esperança e reprodução de vida. É como se fosse o momento de repassar o Bastão divino da continuidade, saudosa por um dia poder ver de cima o mesmo da neta cujo amor e quarto sempre teve cor-de-rosa.
Tem nada, não, mais na frente, muito mais na frente, vamos todos estar juntos brincando de vida eterna o que a ciência humana jamais conseguirá evitar.
Quando for, saiba que Olavo, Maria Julia, Antonio Cândido vão dizer aos céus que na vida tem gente decente como Tidinha.
Obrigado por existir.