Casos recentes de intoxicação em pessoas por metanol em bebidas registrados em Pernambuco, São Paulo e mais recentemente no Distrito Federal evidenciou a urgência de soluções eficazes para proteger o consumidor. Uma tecnologia inovadora desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com o financiamento do Governo da Paraíba, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq), oferece uma alternativa rápida, sustentável e altamente precisa para identificar metanol e outras fraudes em bebidas alcoólicas.
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A plataforma analítica integrada foi descrita nos artigos científicos “Um método verde para autenticação de aguardente de cana-de-açúcar e previsão de densidade e teor alcoólico com base em espectroscopia de infravermelho próximo e ferramentas quimiométricas” (Food Research International, 2023), “Autenticação não destrutiva de Cachaças do Brejo Paraibano baseada em espectroscopia MIR” (Food Chemistry, 2025) e “Quantificação do teor alcoólico e identificação de fraudes em cachaças tradicionais por espectroscopia NIR” (Food Chemistry, 2025).
Baseada em Espectroscopia de Infravermelho Próximo e Infravermelho Médio (NIR/MIR) e modelagem quimiométrica, a solução dispensa reagentes, reduz custos e entrega resultados em minutos, alcançando até 97,3% de precisão na detecção de adulterações, alta confiabilidade na medição do teor alcoólico (erro ~1,8% v/v), além de rastreabilidade de origem com 100% de especificidade (NIR) e 98,4% de eficiência (MIR). O resultado é um controle de qualidade revolucionado e apresenta mais segurança, conformidade regulatória e confiança para produtores e consumidores de cachaça e outras bebidas.
A pesquisa é coordenada pelo professor doutor David Douglas, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e pesquisador de desenvolvimento técnico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fapesq, em colaboração com os professores doutores Railson de Oliveira Ramos e Germano Veras (PPGQ-UEPB), Felix Brito (PPGCA-UEPB) e com a participação das professoras doutoras Taliana Kênia A. Bezerra (UFPB), Noemi Nagata (UTFPR) e Tatiane Luiza Cadorin Oldoni (UFPR). A solução emprega dispositivos capazes de identificar adulterações em poucos segundos, prontos para uso em campo, na indústria e em ações de fiscalização.
O estudo vem sendo desenvolvido há cerca de dois anos, a partir da aprovação, no Edital 006/2020 – PDCTR-PB 2020 (MCTI/CNPq/Fapesq-PB), 2ª Rodada, dos projetos “Transferência de Tecnologias Portáteis de Baixo Custo para Identificação da Origem Geográfica em Alimentos e Bebidas Paraibanas” e “Desenvolvimento de Automação e Instrumentação Analítica Empregando Visão de Máquina para o Controle de Qualidade e do Processo de Produção da Cachaça Paraibana”.
O apoio da Fapesq (R$ 20 mil em cada projeto) foi decisivo não apenas como fomento financeiro, mas como vetor de impacto sistêmico. Viabilizou prototipagem rápida, bolsas e treinamento de estudantes, integração universidade–setor produtivo–fiscalização, criação de protocolos reprodutíveis para inspeção e elevação do patamar tecnológico da cadeia da cachaça, com reflexos em conformidade sanitária, rastreabilidade e competitividade regional, afirmou Railson Ramos.
O pesquisador destaca ainda o papel do CNPq no custeio de bolsas de estudo, garantindo continuidade das equipes e formação de recursos humanos qualificados, e da UEPB pela disponibilidade de infraestrutura laboratorial, sem a qual não seria possível conduzir ensaios, validações e testes em ambiente controlado.
Agora, os pesquisadores estão finalizando instrumentos portáteis de baixo custo baseados em espectroscopia NIR e imagens digitais para uso em linha de produção. O grupo expandiu a pesquisa para tecnologias capazes de diferenciar e quantificar múltiplos adulterantes e formas de alteração (da adição de substâncias ilícitas à substituição por insumos mais baratos), e avançou para uma nova fase com sistemas sensoriais híbridos, narizes e línguas eletrônicas, em desenvolvimento no Laboratório de Instrumentação Industrial da UEPB (LINS-UEPB), sob a coordenação de Railson Ramos, em colaboração com a Universidad Nacional del Sur (Argentina).