BRASIL 247 – A sensação de insegurança levou a brasileira Nívia Estevam, de 27 anos, a decidir abandonar às pressas a cidade onde vivia em Cinfães, no Distrito de Viseu, depois que o filho, José Lucas, de nove anos, teve dois dedos decepados dentro de uma escola portuguesa. As informações são do g1.
A mãe afirma que a repercussão do caso fez crescer a hostilidade de familiares dos agressores e que a mudança será realizada em apenas um dia, com ajuda de parentes. Nívia relata que o episódio ocorreu na segunda-feira (10), quando o menino entrou no banheiro da Escola Básica de Fonte Coberta e foi seguido por dois colegas. Segundo ela, os garotos teriam fechado a porta sobre os dedos do filho e pressionado até amputá-los. “Meu receio é que lá é uma cidade pequena, como se fosse uma região bem interiorana do Brasil. E as pessoas todas se conhecem. E como os pais dos agressores têm família e amigos na região, eu não sei o que eles podem fazer. Eu não sei a maldade deles”, contou.
De acordo com a mãe, a própria escola tentou minimizar a gravidade do caso. A professora da turma telefonou dizendo que José “estava brincando” e “amassou o dedo na porta”. A criança, no entanto, precisou se arrastar para buscar ajuda e passou por uma cirurgia de três horas. Perdeu a primeira parte do dedo indicador e do dedo maior.
“O dedo maior ficará sem unha, e o segundo ficará com apenas a metade”, disse Nívia. Desde então, ela e o marido, João Vitor da Silva, estão hospedados na casa dos sogros, enquanto o filho divide um quarto com a cunhada, de 12 anos. A família volta ao antigo endereço apenas para alimentar o gato, Shelbinho. A mudança definitiva será feita em um único dia, e o novo destino não será divulgado por segurança. A mãe afirma que não recebeu qualquer apoio das instituições brasileiras no exterior. Ela diz que familiares procuraram órgãos governamentais após o ocorrido, mas que nenhuma ajuda foi oferecida. Sem suporte, o casal terá de bancar a mudança com recursos próprios. Ambos procuram emprego — João deixou o trabalho de soldador para acompanhar o enteado durante o tratamento. A família terá ainda de matricular José Lucas em outra escola. O receio de novos episódios de violência é grande, já que, segundo Nívia, o menino foi alvo de agressões por ser brasileiro, preto, gordo e recém-chegado. “Muitas regiões de Portugal são racistas e xenofóbicas”, afirmou. Este era o primeiro ano letivo do menino na instituição.
Após a cirurgia, uma assistente social do hospital acionou a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, responsável por apurar possíveis violações de direitos de menores em Portugal. O órgão abriu uma investigação e aconselhou a família a retirar José da escola. “Eles continuam afirmando que aquilo foi uma brincadeira. Se puder mudar de escola e de cidade, faça isso”, orientou a profissional, segundo a mãe.
Nívia também procurou a polícia, mas, segundo ela, agentes afirmaram que o caso se tratava de um acidente, conforme indicado pela escola. Um atendimento pela segurança social poderia levar de cinco a seis meses, informou o órgão à família. Enquanto isso, o Agrupamento de Escolas de Souselo, responsável pela unidade onde ocorreu a agressão, abriu uma investigação interna.
