BRASIL 247 – As tratativas entre Brasil e Estados Unidos, embora ainda em estágio inicial, já despertam no Palácio do Planalto a percepção de que dificilmente o desfecho das negociações poderá contrariar o interesse político do presidente norte-americano Donald Trump. A informação foi publicada pelo jornal Valor Econômico.
Siga o canal do WSCOM no Whatsapp.
Nos bastidores do governo brasileiro, a avaliação é de que, diante da força geopolítica dos EUA, não há possibilidade de construir um acordo sem algum tipo de “vitória” diplomática para Washington. Como argumentam assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, qualquer entendimento entre os dois países precisa garantir a Trump uma narrativa positiva — ainda que simbólica — para evitar o prolongamento das tensões bilaterais.
Escada para Trump “descer do telhado”
De acordo com fontes diplomáticas ouvidas pelo Valor, a diplomacia brasileira trabalha de forma reservada com a ideia de oferecer algum tipo de “conquista” à Casa Branca. Um negociador experiente descreveu a necessidade de criar uma “escada” que permita a Trump “descer do telhado” — expressão usada para indicar uma retirada honrosa de uma posição política inflamada.
As sanções impostas por Washington não se restringem ao campo econômico. Envolvem também questões políticas, como a aplicação da Lei Magnitsky, que o Departamento de Estado norte-americano utilizou contra autoridades brasileiras, entre elas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua esposa, Viviane Barci. A legislação proíbe os sancionados de viajar aos EUA e de realizar transações com empresas americanas, sendo tradicionalmente usada contra estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos.
Possíveis áreas de acordo
Ainda não está definido qual será o roteiro para que os dois países encontrem uma “saída” ao impasse político. Segundo o Valor, uma das alternativas em estudo seria um acordo na área de exploração de minerais críticos e terras raras, setores de interesse estratégico para os Estados Unidos. No entanto, integrantes do governo brasileiro reconhecem que não houve, até o momento, nenhuma consulta formal de Washington sobre o tema.
Outro caminho avaliado seria buscar convergências na regulação das big techs, tema sensível para Trump e que também ganhou destaque tanto no Executivo quanto no Congresso brasileiros.
O papel do Itamaraty
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi designado por Lula para conduzir as negociações e esteve reunido em Washington, na quinta-feira (16), com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, no primeiro encontro formal dessa nova etapa de diálogo.
Além de Vieira, participam da coordenação das conversas o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. A expectativa, segundo diplomatas, é de que um eventual encontro entre Lula e Trump ocorra nas próximas semanas.
Vitória simbólica e o “placar de zero a zero”
O advogado Benny Spiewak, especialista em direito internacional e sócio do escritório SPLAW Advogados, avaliou que o governo brasileiro deve focar em transmitir uma percepção de vitória, mesmo que o resultado prático seja apenas o retorno ao cenário anterior às sanções.
“Neste momento, diplomaticamente, será mais relevante para o Executivo imprimir a percepção de vitória. O objetivo é voltar ao cenário pré-aumento de tarifa, o que será alardeado como uma conquista fenomenal”, disse Spiewak ao Valor.
Segundo ele, mesmo um empate diplomático já seria suficiente para o Planalto:
“Nada será efetivamente entregue, mas muito será colocado em discussão. Para o governo brasileiro, o que importa é vencer, mesmo que com placar de zero a zero”, completou.