Por Walter Santos
O cenário da educação nos vários níveis anda impactado com a nova cultura imposta pela fase da Pandemia no Brasil, em particular a Paraiba, na qual até os outros segmentos da sociedade andam afetados. Afora tudo isso, há uma forte preocupação com a realidade federal impondo redução dos investimentos na Ciência e Tecnologia chegando até às universidades. Este é o resumo da Entrevista EXCLUSIVA do professor doutor Lucidio Cabral, diretor do Centro de Informática da UFPB ao Portal WSCOM ainda abordando os efeitos da implantação do Parque Tecnológico “Horizontes da Inovação” no Centro Historico de João Pessoa.
Eis a entrevista na íntegra:
WSCOM – Como o diretor do Centro de Informática da UFPB, referência além-mar, defina a realidade social e mercadológica do País e da Paraíba diante da Pandemia a exigir cada vez mais da inovação?
LUCIDIO CABRAL- Caro Walter, gostaria inicialmente de agradecer o espaço de diálogo e dizer da minha preocupação com a atual situação que ora vivenciamos. A pandemia abriu uma enorme crise humanitária global com complexos reflexos nos relacionamentos humanos e nas relações de mercado. Tudo isso demandou uma aceleração do processo de inovação dentro das empresas e catalisou a inserção no mundo digital para boa parte da população, compelida a usar meios digitais para inúmeras atividades de trabalho, de relações sociais e de consumo. Tal transformação foi sentida em todo em país, e em particular, em estados como a Paraíba, talvez tenha sido até mais desafiadora, exigindo maiores saltos de inovação das empresas para a própria sobrevivência no mundo dos negócios, em virtude da inequívoca retração econômica do início da pandemia, e depois para poder aproveitar as oportunidades de negócios surgidas.
WSCOM – Quais as novas bases de formação acadêmica longe do presencial e que focos diferenciados exigem mais da academia?
LUCIDIO CABRAL – Sem dúvida, a Educação sofreu uma grande queda, pois sabemos que grande parte dos nossos alunos, aqui me refiro a todos os níveis de formação, desde o ensino fundamental ao ensino superior, não estava preparada para viver o ensino remoto. Muitas famílias ainda não possuem acesso a Internet banda larga, nem os equipamentos adequados e a mínima formação digital necessária. Restringindo a minha análise aos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Informática da UFPB, eu diria que a transição para ensino remoto foi menos complexa, em função do anterior uso e domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação, por estarmos no contexto mais tecnologicamente privilegiado da sociedade. Isso demandou reformulações na forma de aprender e ensinar, revolucionando o processo ensino-aprendizagem de forma acelerada.
WSCOM – Como projetar o futuro diante da retração governamental na ciência e tecnologia ?
LUCIDIO CABRAL – Vejo sim um futuro mais difícil face à retração no volume de recursos financeiros que outrora fomentava as ações de pesquisa no Brasil, que majoritariamente advinham das agências governamentais como CAPES, CNPQ e FINEP. Entretanto, aposto que migraremos para um novo modelo de financiamento em pesquisa, desenvolvimento e inovação com crescente participação do setor produtivo. De fato, já começamos a vivenciar esse modelo, inclusive na UFPB, em que empresas privadas financiam pesquisas com custeio de bolsas de mestrado e doutorado junto aos programas de pós-graduação em universidades públicas com consequente desenvolvimento/aperfeiçoamento de produtos tecnológicos.
WSCOM – De que forma o Sr define o conjunto de cursos e disciplinas oferecidas pelo CI paralelamente às exigências de excelência de mercado?
LUCIDIO CABRAL – No Centro de Informática da UFPB, oferecemos os seguintes cursos de graduação: Ciência da Computação, Engenharia da Computação, Ciência de Dados e Inteligência Artificial e Licenciatura em Computação, sendo esse último na modalidade de Ensino a Distância (EAD). Temos ainda outros três cursos de pós-graduação. Com isso, formamos uma comunidade com cerca de 800 alunos. Creio que estamos alinhados com a demanda de formação de recursos humanos de excelência de que o mercado necessita, já que contamos com um corpo docente com quase 70 doutores que atuam em diversas áreas da Computação. Também incentivamos e buscamos desenvolver o empreendedorismo junto aos nossos discentes, estimulando a abertura de startups de base tecnológica.
WSCOM – em pleno 2021 em diante quais os desafios da Universidade para se manter na vanguarda e exigências da sociedade?
LUCIDIO CABRAL – A Universidade sempre foi um campo livre para o pensar, experimentar e; inovar. E assim deve perdurar. Contudo, os novos desafios se apresentam principalmente no tocante ao modelo de custeio das atividades de pesquisa que, na minha visão, vai finalmente se espelhar nos modelos europeu e americano, onde há décadas existe uma grande integração entre o setor produtivo e a academia, com forte aporte de recursos privados para os grupos de pesquisas. Por fim, não vejo como uma política governamental de ciência e tecnologia possa ter sucesso se for dissociada da forte participação das universidades.
WSCOM – qual a sua análise sobre as ações em curso pelo ecossistema de TIC em João Pessoa comparativamente ao Nordeste?
LUCIDIO CABRAL – Tenho acompanhado faz alguns anos as ações do ecossistema de TIC em João Pessoa e, infelizmente, é inegável que estamos atrasados em relação a outros estados do Nordeste. Existem ações de muito sucesso em PE, BA e RN. Temos que avançar nas ações relativas aos Parques Tecnológicos tanto na esfera municipal como estadual no intuito de desenvolver o ecossistema local com consequente geração de renda e retenção dos novos talentos que há décadas emigram para outros estados e outros países.
WSCOM – João Pessoa esta às vespera de novo Parque Tecnologico de impacto no estado. Como o sr participa das articulacões e quais cenários o sr projeto no futuro com esse investimento?
LUCIDIO CABRAL – A minha participação no Parque Horizonte de Inovações tem sido pontual, mas sempre contribuindo com as discussões, desde o primeiro momento em que fui chamado pelo Secretário de Educação Professor Cláudio Furtado. Posso dizer que estou confiante no sucesso do Parque e, ao mesmo tempo, cheio de esperança em relação às mudanças que os Parques Tecnológicos Horizontes de Inovação e EXTREMOTEC irão certamente provocar no nosso ecossistema local, com a atração de novas empresas para a Paraíba, bem como fomentando os processos de inovação dentro das empresas de TI já existentes em nosso Estado.
WSCOM – Olhando para frente sem preconceitos, o que esperar dos novos cenários para desenvolver e consolidar o novo Polo Digital em João Pessoa?
LUCIDIO CABRAL – Para o sucesso no processo de consolidação do novo Polo Digital, temos que buscar forte e contínuo alinhamento político entre as ações governamentais das diferentes esferas e aumentar a interação entre academia e setor produtivo. Para tanto, temos que aprimorar os modelos de cooperação científica entre ICTs e Empresas, tornando-os mais participativos e construtivos, melhorando e ampliando a nossa capacidade de formação de recursos humanos. Precisamos levar problemas reais do cotidiano das empresas para que sejam resolvidos, de forma conjunta, nos laboratórios das Universidades, envolvendo a participação de professores, alunos de graduação e pós-graduação.