A Polícia Civil do Rio Grande do Sul coseguiu desarticular uma quadrilha de estelionatários que atrai empresários de diversas partes do país com os golpes. No fim de julho, uma operação prendeu 16 pessoas. Outras seis foram detidas durante a investigação, de março de 2016 até julho de 2017.
O Fantástico deste domingo (6) mostrou com exclusividade a reportagem da RBS TV com os bastidores do esquema, e também de prisões (veja no vídeo acima).
Conforme a Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil, o Deic, a quadrilha é apontada como a responsável por pelo menos nove extorsões mediante sequestro e cárcere privado no Rio Grande do Sul no período investigado.
A ação dos criminosos começa com o chamado “Golpe do Chute”, que são falsos anúncios em classificados de produtos que não existem.
Sobre o esquema
A quadrilha coloca anúncios em sites na internet, geralmente de produtos de grande valor. A Polícia Civil gaúcha já conseguiu localizar anúncios de máquinas agrícolas, retroescavadeiras e supostas cargas de produtos que seriam salvas de acidentes por seguradoras e colocadas para venda por preços mais atraentes.
Entre esses produtos estão eletroeletrônicos, algodão, soja, alumínio e substâncias químicas. Mas, na verdade, é tudo mentira. Os anúncios estão em sites verdadeiros de classificados, mas são falsos. As máquinas e cargas não existem.
Na negociação, um dos criminosos é responsável por conversar com o interessado (fazendeiros e empresários). Nesse contato, ele se mostra amigável e conhecedor do produto que está vendendo. Sabe detalhes técnicos e valores de mercado. De início, diz que precisa vender rápido e já faz descontos.
A vítima, atraída pelas facilidades, é convencida e viaja a Porto Alegre. Geralmente são interessados de fora do Rio Grande do Sul e chegam de avião. O criminoso, inclusive, facilita o translado do então comprador.
O criminoso que negociou com a vítima na internet ou por telefone normalmente não aparece e diz que um funcionário, amigo ou parente, vai encontrar o interessado. As vítimas são recepcionadas no aeroporto e, às vezes, na porta de hotéis.
Os criminosos buscam as vítimas de carro. No meio do caminho, mostram armas e anunciam o sequestro. Eles vendam as vítimas ou um óculos de lentes cobertas para que não vejam o caminho até o cativeiro.
Durante a investigação, a polícia descobriu quatro cativeiros. Dois deles em Alvorada e um em Gravataí, na Região Metropolitana, e outro na Zona Leste da capital gaúcha. São casebres sem reboco, sem forro, úmidos e com colchões no chão. Geralmente, locais alugados ou emprestados. Nossa reportagem esteve nos locais.
Um deles, no bairro Jardim Algarve, em Alvorada, dias após a descoberta e resgate de uma vítima, apareceu queimado. O proprietário foi morto a tiros. A polícia investiga se os fatos são queima de arquivo.
No cativeiro, ameaçadas de morte, as vítimas são obrigadas a conversar normalmente com os parentes, amigos e sócios por mensagens de texto em aplicativos ou mesmo ao telefone. Como viajaram para fechar negócios de alto valor, os criminosos sabem que já havia reserva de dinheiro.
A polícia tem registro de vítimas que ficaram três dias amarradas nesses cativeiros. Depois dos depósitos em contas bancárias, elas são liberadas em rodovias ou na região do Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capital.

