O professor, engenheiro e jornalista Carlos Pereira de Carvalho e Silva foi o primeiro orador da solenidade de lançamento do livro “Uma Ponte para o Abismo”, uma coletânea do economista Ronald Queiroz, sexta-feira, 1, no auditório Master do Sebrae/PB seguido pelo economista Heitor Cabral e médico José Juvencio reunindo intelectuais e familiares em noite especial.
Em texto memorável, Carlos Pereira fez uma síntese da grandeza intelectual de Ronald, cujo texto o Portal WSCOM publica com exclusividade. Eis, a seguir:
A falta que Ronald faz
Carlos Pereira
Já se vão nove anos sem Ronald Queiroz. O tempo, inexorável, que já fez passar tantos meses e dias, acentua mais a falta que ele faz. Na política, na administração, nas ciências econômicas e, também no magistério – a sua ausência permanece sentida e o seu jeito de ser , por vezes mais humilde do que deveria , nos remete à vida profícua e honrada que soube, com aprumo e determinação, levar a cabo, como figura exponencial da inteligência paraibana.
Quatro dias após a sua morte, em outubro de 2006, em dia de eleições em segundo turno para governador e presidente da República, escrevi que Ronald de Queiroz Fernandes era uma ausência a lamentar naquelas eleições. Ele que certa vez, como candidato, tivera o meu voto, no meio da semana havia nos deixado.
Naquele domingo, ele não seria votado e nenhum candidato, também, teria o seu voto. Depois de muito sofrimento, suportado com dignidade e estoicismo, elepartira desta vida, deixando um legado de obras, trabalhos e pensamentos que o fez merecedor de admiração e respeito.
Por onde passou – na imprensa, na Universidade, no Governo do Estado, no Governo Federal e, principalmente, no trato com a Economia, sempre se houve com brilhantismo, mercê da segurança que impunha à forma de expressar verbalmente, pensamentos que desenvolvia, em raciocínio rápido e correto.
Convivi com Ronald, mais de perto, na Universidade Federal da Paraíba e durante o governo de Antônio Mariz/José Maranhão, quando tive a oportunidade de admirar o brilho da sua inteligência e a capacidade de pensar bem o sentido mais social das ciências econômicas. Aliás, Mariz era um confesso admirador das qualidades morais e intelectuais de Ronald de quem se fez, também, amigo e companheiro de discussões e conversas – inteligentes, cultas e às vezes até divertidas, essas últimas raras, sabidos dos dois a sisudez e o riso contido.
Foi, como acentuei no domingo das eleições de 2006, um voto qualificado que fez muita falta naquela eleição. Falta que continua fazendo, numa província que parece estar ficando mais pobre, pela perda de filhos ilustres, cujas vidas, em muito honraram as melhores tradições de inteligência da gente paraibana.
Se é verdade que ainda temos, graças a Deus, personalidades de forte poder de pensamento e ação que conseguem suprir, com o vigor de suas obras, as lacunas que se abrem na vida intelectual da Paraíba, e reduzir o teor dessas perdas, também é veraz que não se produz com um toque de mágica um personagem como Ronald Queiroz – figura inefável da cultura nordestina (em toda a extensão do termo) que, a exemplo dos melhores vinhos, só acontece de tempos e tempos.
Ronald se foi, mas as lições que passou adiante, permanecem. E tudo quanto ele construiu em sua operosa vida, sempre dedicada à causa pública, ao magistério e, sobretudo, à economia – por ele apresentada sem mistérios ou sofismas – certamente, não foi em vão.


