A perícia realizada nos restos mortais de João Goulart não encontrou sinais de envenenamento, segundo resultado do laudo divulgado nesta segunda-feira, que foi inconclusivo para a causa da morte. Após um ano de análises, a equipe de peritos coordenada pela Polícia Federal considerou que os dados clínicos da Jango são compatíveis com morte natural, mas que o envenenamento não pode ser descartado, já que a ação do tempo pode ter modificado vestígios.
“Os dados clínicos, as circunstâncias relatadas pela esposa, são compatíveis com morte natural. O infarto agudo do miocárdio pode ter sido a causa da morte do presidente, como poderia ter sido causada por outras cardiopatias. Contudo, inobstante a negativa dos exames toxicológicos, também não é possível negar que a morte tenha sido causado por um envenenamento, tendo em vista as mudança químicas e físicas”, disse o perito Jeferson Evangelista Correa, da PF.
Segundo dados oficiais, Jango morreu devido a um ataque cardíaco no exílio na cidade de Mercedes, na Argentina, em 1976, mas há a suspeita que agentes da repressão uruguaia teriam trocado medicamentos que ele tomava para uma doença do coração. Os trabalhos de perícia foram realizados pela Polícia Federal e especialistas internacionais, após um pedido da família Goulart à Comissão Nacional da Verdade (CNV).
A perícia encontrou vestígios do medicamento usado por Jango, mas dentro da dose terapêutica. Foram analisadas cerca de 700 mil substâncias. “Não se encontrou nas amostras substâncias que pudessem ter causado a morte. As análises toxicológicas encontraram (…) um medicamento típico para doença conorariana, mas dentro de seu limite terapêutico”, disse o perito.
Os restos mortais de Jango foram exumados em novembro de 2013, no cemitério de São Borja (RS), cidade que fica na fronteira com a Argentina. O corpo voltou a ser enterrado com honras de chefe de Estado no mês seguinte.
A tese do assassinato de Jango ganhou força em 2008, quando o ex-agente do serviço uruguaio Mario Neira Barreiro disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que o ex-presidente foi morto por envenenamento a pedido do governo brasileiro. Documentos oficiais da Operação Condor (um acordo entre países do ConeSul para reprimir militantes contrários a ditaduras) comprovam que o ex-presidente foi monitorado no exílio.
Após a morte em 1976, o corpo de João Goulart não passou por autópsia. No atestado de óbito consta apenas a palavra “enfermedad” (doença), relacionado aos problemas cardíacos que enfrentava.
Ministra diz que laudo é parte da investigação
A ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos, disse que o laudo divulgado é apenas parte auxiliar das investigações. Segundo ela, o material será encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF) que atua em parceria com autoridades argentinas na apuração da Operação Condor. “Temos a compreensão exata que o que nós estamos analisando é parte do processo investigatório”, disse.
Para o filho de Jango, João Vicente Goulart, disse que o trabalho é importante para outras investigações. “Pedi a Deus sempre que ele tivesse falecido de um processo natural, mas diante de que ainda temos um vácuo inconclusivo, esse laudo poderá servir para investigações de outros aspectos”, afirmou.