As chuvas que aos poucos voltam a refrescar as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste não serão suficientes para dar um alívio aos prejuízos que milhares de agricultores tiveram com a longa estiagem, especialmente os dos estados de Minas Gerais, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Para minimizar os danos aos produtores, uma comitiva formada por secretários de agricultura desses estados foi a Brasília pedir o suporte do Governo Federal para renegociar dívidas de agricultores e pecuaristas e aumentar a oferta de sementes, uma vez que agora o clima vem dando uma trégua e a produção pode ser retormada.
Recebidos pelo ministro da Agricultura (Mapa), Antônio Andrade, e pelo secretário da Agricultura Familiar do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Valter Bianchini, os secretários tiveram apenas a garantia que um grupo técnico irá fazer uma ampla análise dos prejuízos, a partir da próxima semana. A comissão terá, além de técnicos dos ministérios, representantes do governo dos estados afetados e entidades de trabalhadores. Depois da análise, as diretrizes para a compensação das perdas serão dadas.
Em Minas Gerais, levantamento feito pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) aponta que as principais perdas estão nas lavouras de milho, feijão e soja. Na área plantada de feijão, estima-se que 70,4 mil toneladas foram perdidas, o que corresponde a 11% da safra mineira. No caso do milho, principal grão cultivado no estado, o prejuízo deve chegar a 1,5 milhão de toneladas, o que equivale a 21% da safra prevista para este ano. Já as perdas estimadas para a cultura da soja são de 340 mil toneladas, 9% da safra mineira. Na pecuária, a redução da produção de leite, prevista por causa dos abalos da seca, deve atingir 20%.
No Nordeste a situação é um pouco mais grave, já que a região amarga prejuízos de uma estiagem que acomete a área há três anos. Em Alagoas, 70% da produção agrícola do estado foi perdida ainda no fim do ano passado. A cultura mais atingida foi o arroz. De acordo com a Secretaria de Agricultura, os esforços para a entrega de ração e a limpeza de barragens ajudaram os agropecuaristas a terem menos perdas.
Na Paraíba, a Secretaria de Agricultura espera ter um balanço mais fiel dos impactos da seca no fim deste mês. No entanto, as avaliações preliminares dos técnicos do Emater, que estão em campo, revelam que houve um abalo de 80% na produção de culturas de milho, arroz e feijão. Para minimizar os danos da estiagem, o governo está enviando carros-pipa para as regiões mais afetadas.
No Rio Grande do Norte, até a cultura de cana-de-açúcar, que costuma ser mais resistente, sofreu danos. De acordo com o secretário de agricultura do estado,Tarcísio Bezerra, a longa estiagem, que castiga a região desde 2012, fez com que 50% da produção litorânea fosse perdida. Além da cana, a produção do caju e a pecuária têm sofrido prejuízos.
“A nossa participação no PIB da produção agrícola brasileira tem caído R$ 2,8 bilhões por ano e a seca cada vez mais se agrava. Temos 18 cidades em colapso de abastecimento d’água e a previsão é de que teremos abatimento de rebanhos”, diz Tarcísio.
A exceção na região é a nova fronteira do Matopiba, que engloba o polo agrícola do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área deve atingir produção recorde de milho, com 5 milhões de toneladas estimadas para este ano. Para a Conab, apesar de persistente no Nordeste, a estiagem é recorrente e prevista. Por isso, seria cedo ainda para se fazer alarmes.
“O que acontece é que algumas regiões do Nordeste ainda não venceram um ciclo de estiagem de três anos, cuja expectativa era a volta das chuvas. O que temos agora é uma melhoria no tempo e os técnicos estão em campo nesse momento para aferir se houve uma substituição de culturas e áreas a serem cultivadas. Um processo, no entanto, já identificado e não motivado pela estiagem e sim pela substituição de culturas, como o milho e o feijão, que tiveram baixos preços no mercado, pelo algodão, por exemplo”, explica João Marcelo Intini, diretor de Política Agrícola e Informações da Conab.

