Declarando que o Irã não quer mais “caminhar no escuro” do isolamento internacional, negociadores de Teerã avançaram o que caracterizaram como um plano de ruptura nesta terça-feira (15) para o impasse de décadas sobre o programa nuclear do país.
O vice-chanceler do Irã, Abbas Araghchi, disse que o nome oficial do plano era “Um Fim para uma Crise Desnecessária e o Começo para Novos Horizontes”. Segundo ele, o plano está repleto de novas ideias, mas acrescentou que os negociadores haviam concordado em manter os detalhes em segredo durante sessão desta manhã de conferência em Genebra.
“Achamos que a proposta que fizemos tem a capacidade de fazer uma ruptura”, disse a repórteres.
Fazendo uma alusão à pressão internacional sobre o programa nuclear iraniano que deu ao país um status de quase pária, ele afirmou: “Não queremos mais caminhar no escuro e na incerteza e temos dúvidas sobre o futuro.”
O Irã busca com o plano fazer um acordo com concessões para conseguir a suspensão das sanções internacionais. Michael Mann, autoridade da União Europeia, disse que a apresentação do Irã no PowerPoint, feita pelo chanceler Javad Zarif, durou cerca de uma hora.
A sessão recomeçou no meio da tarde e uma autoridade do Departamento de Estado dos EUA disse que as cinco potências estavam analisando os detalhes da apresentação iraniana. A autoridade pediu anonimato, pois não estava autorizada a divulgar detalhes sobre a reunião fechada.
O programa de enriquecimento de urânio do Irã está no centro das preocupações das seis potências que participam da reunião. O Irã agora possui mais de 10 mil centrífugas produzindo urânio enriquecido, que pode ser usado tanto em reatores de energia ou para a elaboração de uma bomba atômica. O Irã há muitos anos insiste que seu programa tem fins pacíficos e não bélicos – uma alegação que os EUA e seus aliados não acreditam – mas foi resistente a abrir suas usinas para verificação internacional.
Atualmente, Teerã está sob sanções internacionais que prejudicam profundamente sua economia. Desde a eleição do moderado presidente Hassan Rouhani em junho, autoridades iranianas vem dizendo que estão prontas para estabelecer um compromisso.
Os EUA, a Rússia, a China, o Reino Unido, a França e a Alemanha estão ansiosos para testar se essas promessas são apenas palavras ou se serão traduzidas em algum progresso concreto como o aumento do monitoramento internacional e a redução do enriquecimento de urânio.
“Vimos algum aceno positivo vindo de Teerã”, disse Mann. “Mas claro que a coisa mais importante é se eles vão seguir as propostas concretas.”
A primeira sessão de dois dias de negociações – as primeiras desde a eleição de Rouhani, durou cerca de duas horas e meia, finalizando pouco antes do anoitecer. Dores nas costas sofridas por Zarif, o principal negociador iraniano, quase ameaçaram complicar o processo.
Mann disse que as dores não impediram Zarif de ter um jantar “cordial” na segunda-feira com Catherine Ashton, a diplomata sênior da União Europeia que participa das negociações. Mas Araghchi disse que Zarif estava “sofrendo bastante”, embora pretenda permanecer em Genebra até o fim das negociações.
A TV estatal iraniana disse que Teerã ofereceu discutir níveis de enriquecimento de urânio. A reportagem também afirmava que Irã propôs adotar protocolos adicionais do Tratado Nuclear da ONU – efetivamente abrindo suas instalações nucleares a uma inspeção mais ampla – se o Ocidente reconhecer o direito do Irã em enriquecer urânio.
Visão geral antes da abertura das reuniões a portas fechadas sobre o programa nuclear do Irã em Genebra, Suíça
A maior parte do urânio do Irã está enriquecido a 5% – um nível que necessita de semanas de enriquecimento mais elevado para conseguir ser usado em armas nucleares. Mas o país também possui quase 200 quilos de urânio enriquecido a 20%, um nível que pode rapidamente ser elevado para o uso bélico, segundo a agência atômica da ONU.
Nenhum acordo final é esperado para o fim das rodadas de sessões nesta semana, mas elas podem lançar as bases para um acordo que não foi concluído desde que as negociações tiveram início em 2003.
Uma mudança imediata em comparação com negociações anteriores foi a escolha do idioma. Uma autoridade sênior dos EUA disse que elas serão realizadas em inglês, diferente das rodadas sob a presidência de Ahmadinejad, quando a tradução para o farsi era fornecida. A autoridade pediu anonimato, porque não estava autorizada a discutir detalhes das negociações.