Política
Mulheres realizam protesto e entregam aos deputados um dossiê denunciando os ataques às religiões de matriz africanas
23/03/2023
A União
Oito anos após a destruição da imagem de Iemanjá, localizada no final da Av. Cabo Branco, em João Pessoa, a Rede de Mulheres de Terreiro da Paraíba realizou, na manhã de ontem, uma manifestação em frente à Assembleia Legislativa da Paraíba, na Praça João Pessoa, com o objetivo de denunciar a intolerância religiosa e a depredação do patrimônio cultural e religioso dos povos de terreiro. Além de cobrar do poder público a reconstrução da imagem e sua relocação em espaço público, o grupo entregou às autoridades políticas o dossiê “Racismo Religioso – Ataque à imagem de Iemanjá”, que é “um documento que traz um apanhado de informações sobre os diversos ataques sofridos pelas religiões de matrizes africanas com as constantes depredações ao símbolo da fé e da devoção sagrada que é a estátua de Iemanjá, desde 2013”.
Assinado por 14 organizações, grupos, coletivos e movimentos sociais da Paraíba, o dossiê traz na íntegra, documentos datados desde o momento em que foram divulgados e protocolados, além de ações e tentativas de evidenciar esse racismo religioso com atos públicos, notas de repúdios, tentativas de diálogos com a gestão executiva municipal. O dossiê ainda exige que a administração pública de João Pessoa “reafirme o seu dever de enfrentamento ao racismo e a intolerância religiosa e a garantia da liberdade religiosa”.
Gorete Oyáladê, a ekedi (posto hierárquico feminino no candomblé escolhido por um orixá e que representa a função de cuidadora), representante do Grupo de Mulheres de Terreiro Iyálodé e da Rede de Mulheres de Terreiro, explicou a escolha da data, 21 de março, para a realização do protesto. “Esse é o Dia Nacional das Tradições das Raízes Africanas e Nações do Candomblé. E também faz oito anos que buscamos um retorno das autoridades sobre a reconstrução da imagem de Iemanjá. Queremos uma nova estátua, feita de alumínio fundido, trazê-la para a Praça dos Pescadores e fazer do local o marco do povo de matriz africana e de resgate da cultura africana e tradicional”, afirma Gorete, que reforça a obrigação em se respeitar as religiões e crenças.
“O que aconteceu com a estátua de Iemanjá não tem outro nome, é intolerância religiosa! As pessoas falam tanto de respeito, humanidade e fraternidade, mas depredam uma imagem sagrada apenas por não gostarem dela?! Respeitem nosso axé assim como nós respeitamos seu amém”.
O protesto teve início na Praia de Cabo Branco, com a ação de colagem de cartazes, na Praça de Iemanjá. De lá, o grupo seguiu para a Praça dos Três Poderes e na ocasião, realizaram a entrega do dossiê “Racismo Religioso – Ataque à imagem de Iemanjá” aos parlamentares paraibanos. A deputada estadual Cida Ramos (PT), que apresentou requerimento solicitando que a estátua de Iemanjá seja substituída por uma nova imagem, feita de alumínio fundido, afirma que estátua fazia parte de uma praça que também se encontra abandonada. “As populações de matriz africanas atribuem o fato a atos de intolerância religiosa, mas também apontam para ausência de iniciativa do poder público local na conservação desse patrimônio cultural e religioso da cidade de João Pessoa”, afirma a justificativa do documento.
O vereador Bruno Farias (Cidadania) esteve presente ao protesto, recebeu uma cópia do dossiê e afirmou que a tolerância religiosa é mais que um princípio constitucional. “É um ato de consciência humana, de empatia e de respeito pela individualidade”. O vereador se colocou como ponte junto à Câmara Municipal de João Pessoa.
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