Um assalto à Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, na manhã de domingo (7), resultou no roubo de 13 obras de arte de alto valor cultural, entre gravuras do francês Henri Matisse e do brasileiro Candido Portinari.
O caso, tratado por especialistas como um dos crimes contra o patrimônio artístico mais graves dos últimos anos no país, mobiliza forças de segurança estaduais, federais e até a Interpol para tentar impedir que as peças deixem o Brasil.
O que foi roubado
Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, os criminosos levaram oito gravuras da série Jazz, de Henri Matisse, e cinco gravuras de Candido Portinari da obra Menino de Engenho, além de documentos históricos que integravam a exposição “Do livro ao museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”. As peças pertencem ao acervo da própria biblioteca e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e estavam em cartaz desde 4 de outubro, com encerramento previsto justamente para o dia do crime.
Especialistas destacam que as gravuras de Matisse sintetizam a fase tardia do artista, marcada pelo uso de recortes coloridos e composições gráficas que influenciaram gerações de designers e artistas visuais. Já as imagens de Portinari ligadas a Menino de Engenho dialogam com sua obra mais ampla, que retrata a infância, o mundo rural e as contradições sociais brasileiras, reforçando a dimensão histórica e simbólica das peças levadas.
Como foi o assalto
Relatos da Secretaria de Segurança Pública indicam que dois homens armados invadiram a biblioteca pela manhã, renderam uma vigilante e um casal de idosos que visitava a mostra e seguiram até a área da cúpula de vidro, onde parte das obras estava exposta. Eles colocaram quadros e documentos em uma sacola de lona e fugiram pela saída principal, em direção à região da estação de metrô Anhangabaú, antes da chegada do reforço policial.
Imagens de câmeras internas e do sistema de monitoramento urbano SmartSampa registraram a ação e mostram os suspeitos caminhando pelas ruas do entorno carregando as obras. O caso foi registrado no 2º Distrito Policial (Bom Retiro) e é investigado pela 1ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco), que apura, entre outros pontos, a possível participação de receptadores e encomenda das peças por colecionadores.
Importância dos artistas e impacto para a cultura
Henri Matisse é considerado um dos pilares da arte moderna europeia, reconhecido pelo uso radical da cor e pela influência sobre o fauvismo, o design gráfico e a arte abstrata do século 20. Portinari, por sua vez, é um dos principais nomes da pintura brasileira, autor de obras como Retirantes e O Lavrador de Café, e figura central na construção de uma identidade visual nacional que denuncia desigualdades e celebra personagens do povo.
Curadores apontam que a perda temporária dessas gravuras, mesmo com seguro e catalogação detalhada, representa um abalo para a política de exposições compartilhadas entre instituições, que busca justamente aproximar acervos de museus e bibliotecas do público. O roubo reacende o debate sobre segurança em espaços culturais e a necessidade de investir em sistemas de monitoramento, controle de acesso e protocolos específicos para exposições de obras de grande valor simbólico e financeiro.
Situação da investigação e próximos passos
A Polícia Civil de São Paulo informou que ao menos um dos suspeitos já foi formalmente identificado, e diligências seguem para localizar o comparsa e eventuais intermediários. As autoridades ressaltam que todas as gravuras estavam seguradas, mas não divulgaram valores por questões contratuais, e reforçam que a prioridade é recuperar as peças em bom estado antes que sejam levadas para o exterior ou dispersas em coleções privadas.
A prefeitura comunicou à Interpol o roubo, inserindo dados e imagens das obras no banco de dados global de peças de arte furtadas, mecanismo utilizado internacionalmente para alertar casas de leilão, galerias e órgãos policiais. Enquanto o acervo permanece sob perícia e a biblioteca reavalia seus protocolos de segurança, a equipe da Mário de Andrade e o MAM destacam que seguirão trabalhando em conjunto para manter a programação cultural, mas reforçam que o episódio é um alerta sobre a vulnerabilidade do patrimônio artístico brasileiro.
