A Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) concedeu, nesta quarta-feira (22), a Medalha Augusto dos Anjos ao ator Mateus Nachtergaele. A homenagem, proposta pelo deputado Felipe Leitão, ocorreu em Sessão Solene no plenário da Casa Epitácio Pessoa, reunindo parlamentares, artistas, intelectuais e admiradores do ator.
Durante a cerimônia, o deputado Felipe Leitão destacou que a condecoração é um reconhecimento à trajetória artística e à contribuição cultural de Mateus, que, segundo ele, transcende fronteiras. “Eu considero o Mateus Nachtergaele o maior ator em atividade hoje no Brasil e no mundo. Ele não só foi premiado nacionalmente, mas também recebeu diversos prêmios internacionais. E, acima de tudo, tem uma identidade muito forte com o povo paraibano”, afirmou o parlamentar.
O deputado lembrou ainda que foi Nachtergaele quem levou o nome da Paraíba ao cenário mundial com sua interpretação de João Grilo no filme O Auto da Compadecida, baseado na obra de Ariano Suassuna. O longa, gravado em Cabaceiras, rendeu ao ator o Título de Cidadão Taperoaense. “Mateus fez com que a nossa pequenina Paraíba fosse conhecida internacionalmente. Nada mais justo do que conceder essa honraria como forma de gratidão por tudo que ele representa para o povo paraibano e nordestino”, acrescentou Leitão.
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Visivelmente emocionado, Nachtergaele agradeceu a homenagem e relembrou sua relação afetiva com a Paraíba, especialmente com as cidades de Taperoá e Cabaceiras, onde gravou algumas de suas obras mais marcantes. “Todas as honrarias que recebo daqui eu devo ao João Grilo e, mais profundamente, ao Ariano Suassuna, que foi meu amigo e mestre. Sempre que venho à Paraíba é por um motivo maravilhoso — e hoje, ser agraciado com essa medalha tão especial, é um deles”, declarou o ator.
Durante o discurso, Mateus falou sobre a filmagem de “O Auto da Compadecida 2”, recentemente concluída, e o privilégio de reviver João Grilo, papel que o consagrou nacionalmente. “Receber esse personagem duas vezes é como um chamado da arte. Reviver João Grilo é revisitar um Brasil profundo, cheio de fé, humor e resistência”, disse.
Paulistano de nascimento e descendente de belgas, o ator contou que encontrou no Nordeste um território de pertencimento artístico. “Eu fui recrutado pelo cinema brasileiro para percorrer o Nordeste e interpretar personagens nordestinos. Fui aprendendo o Nordeste por dentro de mim — pelas paisagens, pelas pessoas, pelos personagens. É como se eu conhecesse o Nordeste por dentro”, afirmou.
Entre risos e lembranças, Nachtergaele compartilhou histórias das gravações em Cabaceiras. “Até um burrinho eu tive lá! Um rapaz me alugou o animal por um real. Era um gesto simbólico, mas que dizia muito sobre o espírito daquele lugar: generoso, simples e cheio de humor”, recordou.
O ator também refletiu sobre o papel da arte como instrumento de crítica e transformação social. “Eu acredito que qualquer fazer artístico tem algo de político. O Auto da Compadecida denuncia as injustiças sociais e de classe do Brasil. João Grilo e Chicó são sobreviventes da última camada do povo. É uma crítica sem ser panfletária — é arte, e isso já é político por si só”, afirmou.
Com humildade, Mateus disse se considerar apenas “um ator que teve a sorte de viver o João Grilo”, mas ressaltou o compromisso de honrar os personagens brasileiros e o povo que o inspira. “A matéria-prima de um ator é o povo. Se eu não tiver acesso às pessoas, é como se um pintor não tivesse suas tintas. Gosto de andar entre o povo simples, ouvir suas histórias. É ali que mora a verdadeira sabedoria — aquela que não está nos livros, mas nos olhos do homem do povo”, concluiu.
A solenidade contou com as presenças dos deputados Cida Ramos, Dr. Taciano Diniz, Dr. Romualdo, João Gonçalves e Luciano Cartaxo, além do presidente da Funjope, Marcos Alves, do presidente da Academia Paraibana de Letras, Ramalho Leite, do ex-prefeito de Cabaceiras, Thiago Castro, e de representantes do meio artístico e cultural paraibano.
Com a Medalha Augusto dos Anjos, a Assembleia Legislativa da Paraíba reconhece a relevância da obra e do legado de Mateus Nachtergaele, cuja arte revela, com sensibilidade e profundidade, a alma do povo nordestino e a grandeza da cultura brasileira.
