Início » Mídias e Entretenimento » Karol Conka fala sobre ‘marra’, emoção do Rock in Rio e feminismo

Karol Conka fala sobre ‘marra’, emoção do Rock in Rio e feminismo

É sobre sexo oral a música mais recente de Karol Conka. Em “Lalá”, lançada em junho, a rapper de Curitiba canta que quer ser “bem atendida” e fala em “direitos de prazer iguais”. “As mulheres ficaram muito felizes, escreveram dizendo que é um hino, precisavam de uma música que falasse por elas”, afirmou ela em entrevista por telefone ao G1.

Karol Conka: ‘As pessoas têm que saber conviver com meu brilho’

Aos 30 anos, mãe de um menino de 11, apresentadora do programa “Superbonita”, da GNT, com música na abertura de “Malhação – Viva a diferença” e prestes a tocar no Rock in Rio 2017, Karoline dos Santos Oliveira foi recentemente incorporada ao time das divas do pop brasileiro. Ela se define assim:

“Sou uma cantora de rap, tenho toda uma vivência de ‘maloqueira’, ‘vileira’… Hoje sou mãe, sou garota-propaganda, mas tenho toda uma essência, sim. Não dá para esconder”.
Karol acha que a “marra” é inevitável não só por causa do estilo musical que adotou. Diz que, no começo da carreira, foi alvo de assédio sexual da parte do contratante (e preferiu manter a fama de “marrenta” a passar por “boba”). Reconhece que tem machismo no rap (e no samba, no rock, no funk…).

Na conversa, falou também sobre feminismo, “empoderamento” de mulheres negras, a inspiração na avó (que “era espancada diariamente”) e brincou que é meio ‘boba alegre”, principalmente no stories (quer dizer: não dá para ser “marrenta” o tempo inteiro).

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

G1 – Você vai tocar no Rock in Rio com o Bomba Estéreo? Qual o significado de participar do festival?
Karol Conka – Eu estou bem emocionada. Acho o conceito do festival muito bacana. Estou empolgada para fazer a parceria com o Bomba Estéreo, admiro. A linguagem deles é muito foda. E tem essa coisa da representatividade, tanto musical quanto comportamental, né? Por ser um festival conhecido pra caramba e ter esse lance do rock – e eu não sou do rock; eu sou do rap. Estou muito emocionada, feliz e grata por ter sido reconhecida.

G1 – Em junho, você lançou a música ‘Lalá’, feita ‘na intenção de informar as pessoas da necessidade da prática do sexo oral na mulher’. Qual foi recepção da faixa, tanto entre homens quanto entre mulheres?
Karol Conka – As mulheres ficaram muito felizes, escreveram muito dizendo que é um hino, que precisavam muito de uma música que falasse por elas. Disseram que aprenderam e se ligaram que mereciam ser bem atendidas. Tem muitas pessoas também, entre homens e mulheres, dizendo que a música é muito bonita e fala de um assunto que, hoje em dia, é tratado no funk de uma maneira boçal. Tratei de uma maneira mais poética e informativa.
Muitos homens escreveram agradecendo, achando o máximo, dizendo que iriam tratar melhor as suas esposas, mas teve alguns caras ofendidos. Eu super entendo: já esperava esse tipo de reação.

“Os caras que se ofendem são aqueles que sabem que estão fazendo errado [sexo oral] e não conseguem assumir, entendeu? O propósito da música não é ofender nem xingar ninguém. É só informar como fazer melhor.”
O clipe foi censurado no YouTube: só quem for maior de idade pode assistir, mesmo não tendo cenas explícitas e palavreado chulo. Isso prova que há um tabu em volta do prazer da mulher, e eu vou seguir dando voz a elas.

G1 – Você também escreveu que teve ‘a ideia de fazer um clipe com uma equipe toda formada por mulheres de forte posicionamento’. Por que essa decisão?
Karol Conka – Tomei essa decisão porque, para falar de sexo oral na mulher, tem que ser mulher, tem que ter vagina. Então, para fazer esse clipe, escolhi as mulheres justamente porque elas também têm as suas experiências, têm um posicionamento forte e misturaram as ideias delas com as minhas.

G1 – Acha que o rap é mesmo mais machista que outros gêneros musicais ou é errado falar isso e o machismo é igual em todo lugar?
Karol Conka – Falar que o rap é mais machista que outros gêneros é errado. Eu acho que o machismo está em todo lugar.
“Se a gente parar para ouvir samba antigo, tem muito machismo: homem falando que tem que bater na ‘nêga’, que tem que espancar, que tem que fazer logo a comida. No rock também, no rap, no funk principalmente.”
O machismo é uma coisa universal.
G1 – Você sempre pensou em transmitir a ideia de empoderamento das mulheres negras ou teve algo que despertou isso?
Karol Conka – Sempre pensei nisso. Desde a adolescência, brincava que minha música iria funcionar como uma poção mágica: a pessoa iria ouvir e ficar infectada pelo amor próprio. No meu início no rap, tentava fazer uma coisa diferente, mas não conseguia.

“Os amigos na época chamavam de ‘rap de autoajuda’. Não existia essa palavra ‘empoderamento’ – nem eu conhecia, fui descobrir depois que lancei disco.”
Mas era autoajuda que a gente chamava. Porque é uma coisa realmente de autoajuda. Você vai ouvir a libertação, e é exatamente assim. Gosto de cantar o que eu sou. Na minha real, na minha vida pessoal, sou exatamente o que canto nas músicas.

G1 – Você sempre se identificou como feminista?
Karol Conka – Na verdade, meu discurso sempre foi esse, feminista. Mas eu não sabia o que era o feminismo, fui saber depois que lancei um disco e as pessoas começaram a falar. É uma coisa que não era muito discutida na minha época. Eu não entendia muito sobre o que era [feminismo]. Fico feliz de fazer parte de uma geração que está trazendo isso mais à tona.

Essa minha força feminina, essa garra, vem da minha avó, que é baiana, apanhava muito do meu avô, era espancada diariamente.
“Na minha família, todas as mulheres sempre foram independentes e fortes. Os homens sempre foram fracos e viciados – todos, todos: meus tios, avós, pai…”
Os únicos homens que hoje são de boa são meu irmão, meu primo e meu filho, que tem 11 anos.
“Minha mãe sempre me ensinou que a gente tem que ser forte. Mulher tem que ser duas vezes mais forte. Quando você é negra, você tem que ser três. E não abaixar a cabeça.”

Então, preferi pegar o meu dom – da fala, da escrita e da poesia – e falar sobre vitórias e coisas boas do que só cantar a dor. Porque o rap nacional antigamente tinha muito disso, né? Era um protesto. Daí, resolvi protestar da maneira “Conká”, que é protestando, falando ali da minha força, mas sem chorar.

G1 – Você recebe críticas de gente dizendo que você faz campanha publicitária para marcas muito caras. Com o tempo, esse tipo de comentário para de incomodar?
Karol Conka – Até explico para algumas amigas artistas que têm problemas com isso: “A gente tem três vidas – a que eu vivo, a que cuidam e a que inventam”. Quando você tem noção de que é uma figura pública e que as pessoas têm direito de opinião e vão falar de você, não tem por que ficar brava.
As pessoas estão no direito de ir lá falar: “Ai, não gosto porque o cabelo dela é rosa”, “Ai, a voz dela é irritante”. Porque eu também acho isso de outras pessoas, também tenho minha opinião contra.
“Seria muito egoísta, da minha parte, querer ser perfeita, maravilhosa e que todo mundo só achasse que sou linda.Nem eu mesma me acho perfeita e musa e diva (risos). Sou bem tranquila com isso.”

G1 – Que tipo de defeito você tem?
Karol Conka – Defeito meu? Deixa eu ver… Uma coisa que acho que não gosto muito em mim é o timbre da minha voz.

G1 – Você não gosta do timbre da sua voz?!

Karol Conka – Quando estou falando, não. Ela fica meio: “nhém nhém nhém nhém nhém”. Cantando, eu gosto. E acho que sou muito alegre (risos). Às vezes, eu sou “boba alegre” (risos). Mas é o meu jeito, assim. As pessoas também esperam muito “tombamento”, acham que vou chegar com uma marra toda…
Eu sou marrenta, porque sou do rap – não tem como ser rapper e não ser marrenta, entendeu? Tem toda uma história por trás dessa marra, tipo, eu tenho que ser marrenta.
“Depois de tudo que passei, o mínimo é ser marrenta, porque assim exijo respeito. Mas tenho um lado cômico alegre, tranquilo e empático, que as pessoas só enxergam quando acompanham meus stories ou me veem ao vivo.”

G1 – Pretende amenizar a marra com o tempo?
Karol Conka – Essa marra eu só uso nos momentos em que preciso impor minhas condições. É muito difícil as pessoas te levarem a sério quando você é menina. Esse meio que vivi, do rap, foi difícil. Os contratantes, cara achando que é uma noite de sexo com ele.
“Aconteceu de o cara me chamar para fazer show, eu chegar lá e ele me esperar com presente de marca, chamar para andar no carro dele e falar que estava louco para me dar um pega. Aí, tive que ser marrenta mesmo. Prefiro mil vezes ter fama de marrenta do que de boba.”
Essa marra com o tempo pode amenizar – ou não… Aumentar não vai (risos).

G1 – Você começou rapper mas foi apostando no pop. A imagem das cantoras pop é associada àquela coisa de diva, visual, coreografia… Como é isso para você?
Karol Conka – Fico muito feliz quando meu público me enxerga como pop, me chama de diva. Mas deixo bem claro que é uma diva pop “Conká”. É diferente. Não gosto de fazer o que os outros já estão fazendo. E o que não sei fazer, não me atrevo. Tipo assim, já fiz balé, gosto de dançar, mas cantar e dançar não é comigo, então não vou nem me atrever.

Prefiro chegar só eu e meu DJ, por enquanto. Hoje sou headliner em festivais, e sem bailarinos e sem banda. Precisa ter uma potência pessoal mesmo, para chegar ali e aguentar. O pop vai além de bailarino. Você tem que ter uma atitude pop.

G1 – O que é atitude pop?
Karol Conka – É conectar o público com a sua energia, estar disposta a se agradar em primeiro lugar. E estar antenada no que é o pop, a moda… Gosto de estar montada. Sempre quis viver essa vida de “montação”. As pessoas falam: “Ai, mas você não era assim antes!”. Lógico, eu não tinha condições, não tinha pessoas para me ajudar a fazer isso na época.

G1 – Tem cobrança dos fãs: ‘Ah, era rapper e agora virou pop’?
Karol Conka – Tem, e eu super entendo. É a visão deles, mas na minha visão estou ótima. Não quer gostar, não gosta, tem todo o direito.
“Agora, quando é algum babaca que só quer falar asneira, se eu estou na TPM, respondo – para deixar de exemplo. Mas nunca xingo pessoas, não precisa. O máximo que fiz foi mandar tomar num lugar peculiar.”
Fora isso, sempre falo de boa, para que a pessoa perceba que não estou nem aí.

G1 – Você não expõe muito da vida pessoal muito exposta. Por quê?
Karol Conka – É uma coisa da minha casa. Minha mãe é assim, muito preservada. Aprendi a ser assim. Como já sabia que iria ser artista, desde pequena fui me policiando: tenho poucos amigos, poucas pessoas frequentam a minha casa, não vou em todos os lugares, não frequento a casa de todo mundo. Não falo da minha vida pessoa nas redes, não exponho muito a vida pessoal do meu filho… Mostro mais o meu cachorro e meu lifestyle como artista.

“Quando comecei no rap, uma das minhas regras era: nunca namore um MC. Aí, quando entrei no rap, namorei o pai do meu filho. Quebrei a regra, fiquei muito brava e, aí, terminei com ele.”

Engravidei, terminei e nunca mais me envolvi com ninguém do rap, para ninguém ficar falando: “É a mina do cara”. Hoje, no rap, ninguém pode falar: “Ah, eu catei a Karol, eu sei como é”. Não, ninguém. Hoje todos querem me pegar, a louca (risos). Todos querem, jamais catarão (risos). Mas, assim, hoje sou a Karol Concá. Se eu namorar um cara do rap ou algum artista, não vou ser a mina do cara.
 

Mais Posts

Tem certeza de que deseja desbloquear esta publicação?
Desbloquear esquerda : 0
Tem certeza de que deseja cancelar a assinatura?
Controle sua privacidade
Nosso site utiliza cookies para melhorar a navegação. Política de PrivacidadeTermos de Uso
Ir para o conteúdo