Cultura
Com enredo politizado e samba com homenagem a Marielle Franco, Mangueira é a campeã do carnaval 2019 do Rio
Escola recontou a história do Brasil a partir de heróis negros e índios. Viúva de Marielle Franco, vereadora do PSOL morta em março do ano passado, desfilou na última ala.
06/03/2019
A Estação Primeira de Mangueira é a campeã do Carnaval 2019 do Rio de Janeiro. A escola, que apostou no enredo politizado “Historia para ninar gente grande”, conquistou 270 pontos, a nota máxima possível na apuração. A disputa foi acirrada com a Unidos do Viradouro, que ficou em segundo lugar, com 269,7 pontos. A Beija-Flor, campeã do ano passado, terminou na 11ª posição (de 14 escolas, no total), com 267,6 pontos. A Imperatriz Leopoldinense e a Império Serrano foram rebaixadas.
Com o samba mais badalado do Carnaval 2019, a Mangueira entrou na avenida com pinta de favorita. Com um desfile de visual irrepreensível e evolução emocionada, a verde e rosa saiu da Sapucaí aos gritos de campeã.
Para conquistar o seu 20º título, a Mangueira deu uma aula de história na Sapucaí. Mas foi uma história alternativa, com destaque para heróis da resistência negros e índios em vez dos personagens tradicionais das páginas de livros escolares.
O enredo “História pra ninar gente grande” foi assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira e contado em 24 alas e cinco alegorias. Em busca do título, a Mangueira exibiu uma bandeira do Brasil com as cores da escola no final do desfile.
“A gente passou a mensagem que a gente queria”, comemorou a rainha de bateria Evelyn Bastos, destacando que a escola exaltou a história do povo negro.
“Lava a alma. A Mangueira estava esperando esse título. Foi muita batalha”, afirmou Alvinho, ex-presidente da escola. “Fizemos um grande espetáculo e, semana que vem, se Deus quiser, vamos repetir.”
Destaques do desfile
O segundo carro apresentou uma releitura do Monumento às Bandeiras, em São Paulo. A obra apareceu manchada de sangue, em referência à forma violenta com a qual os bandeirantes exploravam o Brasil.
O samba citou Marielle Franco, vereadora do PSOL morta a tiros em março do ano passado. A arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e o vereador Tarcísio Motta (PSOL) desfilaram à frente da última ala.
Com 3.500 componentes, a escola verde e rosa apresentou heróis como o guerreiro Sepé Tiaraju, que tentou evitar o massacre dos guaranis pelas tropas de Portugal e da Espanha.
Foram recontadas batalhas entre índios e portugueses, com tribos dizimadas. Uma das alas mostrou os índios Cariris e sua luta para que o Nordeste não fosse invadido, em um conflito de mais de 50 anos.
Um grupo de musas da comunidade chamou a atenção por representar importantes mulheres negras, como Acotirene, matriarca do Quilombo dos Palmares, e Adelina Charuteira, da campanha contra a escravidão no Maranhão.
Outro momento de representação feminina foi um dos carros foi empurrado apenas por mulheres.
O quarto carro contou a história de Chico da Matilde. O jangadeiro negro lutou para impedir o embarque de escravos no Ceará e foi importante para abolição da escravidão na região.
As alas seguintes apresentaram caricaturas que caçoaram de Pedro Álvares Cabral (apresentado como presidiário) e Pedro I (montado em uma mula). Cheio de livros gigantes, o quinto carro da Mangueira simbolizou “A história que a história não conta”, mais uma vez questionando as lições ensinadas nas escolas.
Confira o resultado final da apuração carioca:
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Por Redação com G1
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