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Geração “Nem-Nem”: qual a razão da geração Z ter ganhado esse rótulo?


06/06/2025

Foto: Jovem Pan

Paulo Nascimento



Nos últimos tempos o termo “nem-nem” que significa “nem estuda nem trabalha” começou a ser bastante usado por gerações anteriores ao se referir a Geração Z. Com alguns dados, o Portal WSCOM consultou a Luana Genoud, Professora de sociologia e mestre em antropologia social pela UFPB para comentar se esse termo é explicado de forma socialmente e economicamente sobre os jovens brasileiros. 

“A juventude está sem estudo e sem oportunidade. Ou até, sem eixo, sem enxergar essas oportunidades. Então estão abrindo o espaço para trazer soluções e não apenas apontar os ‘erros’.”

Pesquisa

Apesar da persistência no termo, os dados mostram sinais de mudança. O IBGE aponta que, a taxa de jovens entre 15 e 29 anos classificados como “nem-nem” teve uma queda de 23,7% em 2021 para 21,2% em 2024. O dado mostra um esforço crescente da juventude que está buscando outros meios para desempenhar um papel importante na sociedade, mesmo que fora das formas “tradicionais” de trabalho formal ou ensino superior.

Nos Estados Unidos, 40% dos jovens da Geração Z já procuram um segundo emprego para complementar a renda. Muitos adotam o trabalho freelancer ou temporário como resposta à instabilidade econômica e do mercado de trabalho.

Mudança no termo “nem-nem” para “sem-sem”

Luana aponta que o uso do termo “nem-nem” carrega um olhar moralizante sobre os jovens, como se a falta de estudo e trabalho fosse uma escolha pessoal e não um resultado de um contexto social. Ela propõe uma virada de perspectiva:

“A mudança do rótulo ‘nem-nem’ para ‘sem-sem’ pode ser considerada uma evolução, pois retira o caráter essencialista dessa rotulagem. Então pode se enxergar a juventude dentro de uma construção social, e não como um problema em si.”

A falta de perspectiva, segundo Genoud, é palpável no ambiente escolar e no cotidiano dos jovens. “Eles não estão desinteressados por natureza”, afirma. “Estão paralisados por um mundo que não oferece perspectivas concretas.”

A era dos influencers e ganhar dinheiro com a internet

Com o excessivo acesso à internet e aos novos modelos de sucesso, fama e monetização digital, muitos jovens passaram a questionar se vale a pena a educação formal. O argumento é de que “estudo não leva a nada” encontra alcance em influenciadores que tem uma renda alta e fama cujo não possuem diploma superior.

“Os modelos formais de estudo e trabalho não são mais vistos como um caminho ideal nas perspectivas dos jovens. Muitos deles conseguem ganhar dinheiro pela internet e esse meio de emprego virtual, os “influencers” acabaram por corroborar com essa ideia de que o trabalho e o estudo formal “levam a nada”, explica Genoud.

Ela compara esse fato ao conceito de modernidade líquida, de Zygmunt Bauman, onde as instituições tradicionais perdem coesão e as relações sociais tornam-se frágeis e instáveis. “Essa liberdade demasiada deixa os jovens ansiosos, sem saber o que fazer nem para onde ir.”

Geração em trânsito

A Geração Z vive o que o teórico Stuart Hall definiu como identidade fragmentada, com a influência de culturas globais, que são instáveis e de diversas narrativas de sucesso.

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“Eles experimentam mais, se prendem menos. É uma geração em trânsito. Isso é positivo, mas também revela a dificuldade de construir pertencimento e estabilidade”, analisa Genoud.

Empreendedorismo juvenil

O crescimento do empreendedorismo jovem e dos chamados “bicos” pode ser interpretado de duas formas: pode ser um sinal de resiliência e reinvenção ou pode ocultar um cenário de precarização e insegurança no trabalho.

“É fundamental que o poder público se atente a esse movimento e regule essas formas de trabalho para evitar a exploração e a baixa remuneração”, alerta a socióloga.

Por outro lado, a alta rotatividade nos empregos e a dificuldade em manter projetos de longo prazo revelam não apenas traços dessa geração, mas características de uma sociedade em constante transformação. “O desafio é estrutural e coletivo, Precisamos reinventar os modos de motivar, incluir e dar sentido à trajetória dos jovens. É uma sociedade em trânsito que nos ensina bastante.” Conclui Luana.



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