Economia & Negócios
Fusão entre Gol e Azul: Cade se preocupa com monopólio, enquanto mercado enxerga com ‘bons olhos’; economista analisa riscos a consumidores
11/02/2025
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(Foto: Reprodução)
Anna Barros/ Portal WSCOM
As duas maiores companhias aéreas do Brasil, Gol e Azul, anunciaram o desejo pela fusão entre as empresas em janeiro deste ano, através da assinatura de um memorando de entendimento para fusão de negócios entre a empresa grupo controlador da Gol – e da Avianca – e a Azul. No entanto, em meio às especulações do que pode ou não acontecer com o mercado de transporte aéreo brasilerio, especialistas e empresários têm opiniões divergentes sobre essas consequências.
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Para que a fusão seja aprovada, as empresas devem aguardar – em um prazo estipulado de 12 meses – uma análise mais aprofundada do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Embora a expectativa para aprovação esteja alta, ex-conselheiros do Cade já se pronunciaram publicamente contra a ação.
“No Brasil, para uma nova companhia competir, ela precisa ter uma grande capacidade de rede, o que é extremamente difícil de conseguir. Isso criaria barreiras para novos competidores e reduziria a competitividade do setor”, afirmou o ex-conselheiro Cleveland Teixeira em uma transmissão da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE).
A opinião dos ex-conselheiros que estiveram presentes na transmissão foi unanimemente contra a fusão. Em entrevista ao Portal WSCOM, o economista Vitor Nayron afirmou que a preocupação principal do Cade é evitar a formação de um monopólio no mercado.
“Quando vem ocorrer a junção, a fusão da Gol com a Azul – que são duas empresas que tem uma parcela significativa do mercado de aviação comercial no Brasil –, elas juntas podem formar uma gigante. E aí tem que se analisar de fato até que ponto isso pode ser prejudicial em termos de concorrência”, explicou.
Esse cenário é observado mediante aos dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que apontam uma concentração de mais de 60% do mercado de aviação brasileiro, caso ocorra a fusão.
Vitor também explanou as principais dificuldades do setor aéreo que, muitas vezes, não conseguem fechar as contas devido aos altos custos. “A gente está falando de um setor que tem uma série de complicações no sentido de rentabilidade, de custo. Os desafios são muito grandes quando a gente pensa em aviação, o custo do querosene da aviação é caro, o custo de ter uma aeronave é caro, a manutenção é cara, enfim, toda a estrutura é muito cara”, disse.
Essas complicações podem ser percebidas através do acúmulo de prejuízos que a Azul vem enfrentando desde 2019. A empresa teve perdas de R$ 700 milhões em 2023 e, até o terceiro trimestre de 2024, o número chegou a R$ 4,6 bilhões. Enquanto isso, a Gol não caminha muito de maneira muito diferente. No mesmo período, a companhia teve um déficit de R$ 951 milhões. Ambas as dívidas foram renegociadas, mas a Gol ainda enfrenta um processo de recuperação judicial.
Para defender os interesses de ambas as empresas, o CEO da Azul, John Rodgerson, afirmou que a fusão deve, além de gerar sinergias de até U$ 500 milhões – tendo como base as estimativas do BTG Pactual –, também deve diminuir o valor das passagens.
“O número é bem factível. A Gol opera nas grandes cidades, e a Azul tem mais conexões no interior. Isso vai facilitar as viagens e aumentar a oferta. […] Se colocarmos mais oferta no mercado, o que acontece? O preço cai”, disse o CEO.
Mesmo com a dualidade de opiniões, Vitor pontuou que, no mercado financeiro, a fusão foi vista como positiva.
“O mercado financeiro, ali na data que teve o anúncio, foi uma reação mais otimista, porque junta duas companhias que têm uma parcela significativa, isso tem dado mais fôlego quando a gente pensa do ponto de vista financeiro, dados os desafios, como eu falei, já desse setor”, concluiu.
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