Com 35 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) que ultrapassa o de países como Espanha e México, Tóquio tem boas chances de ser pioneira no conceito de cidades inteligentes. A opinião é do vice-presidente sênior e diretor de estratégia da Ericsson, Douglas Gilstrap, que conversou com o iG durante o Ericsson Business Innovation Forum 2013, na metrópole asiática. “Tóquio é o melhor lugar para discutir conectividade, por liderar o fornecimento de banda larga móvel e ser a primeira em inovação”, afirmou.
De aspecto futurista, a cidade é um retrato de como as metrópoles vão parecer no futuro, na visão da companhia. Com 95% de adesão à banda larga, o Japão lidera nos serviços móveis de aplicativos, livros, TV e jogos online – o motor de desenvolvimento de muitas empresas japonesas. Gilstrap explica a seguir como outras cidades podem copiar o exemplo e implantar serviços móveis a favor de seus habitantes. Também aponta as dificuldades e o custo dessas tecnologias nos mercados emergentes.
Gilstrap – Em Nova York, cidade onde eu vivo, houve há pouco tempo uma paralisação da linha de trem Metro-North durante uma semana. As pessoas ficaram presas, sem poder chegar ao trabalho. Como todo mundo tinha acesso a banda larga móvel, vimos um fenômeno interessante: todos os coffee shops e parques ficaram lotados com pessoas trabalhando, utilizando a banda larga com a mesma segurança que em seus escritórios. Isso mostra que a plataforma já está nas ruas.
Essas tecnologias são mais acessíveis em cidades desenvolvidas em comparação a locais emergentes?
Há diferentes casos para diferentes geografias. No e-learning, por exemplo, o acesso é remoto de qualquer cidade, assim como pacientes que fazem o automonitoramento por meio destas redes. É um recurso ilimitado. O custo de um projeto não dar certo é baixo. Você pode desenvolver um aplicativo e ver se funciona. Se não funcionar, você só está testando uma ideia e não vai perder muito dinheiro, necessariamente.
As cidades inteligentes são apenas um conceito ou já é possível visualizar polos onde elas despontam?
Para identificar o potencial de uma cidade inteligente, eu analisaria, em primeiro lugar, a disseminação da banda larga e de tecnologias móveis. Em seguida, olharia a disposição do governo em fazer parcerias com a iniciativa privada para desenvolver soluções móveis. Por ultimo, eu olharia as grandes cidades que mais precisam de um incentivo para isso acontecer.
Há alguma metrópole que já caminha para ser uma cidade inteligente?
Acredito que Tóquio estará entre as principais cidades que se desenvolvem para isso dentro dos próximos cinco a dez anos.
Por que Tóquio?
Porque ela está muito à frente em banda larga móvel e muito avançada em tecnologia 4G. E há o fato de que o governo está disposto a desenvolver essas tecnologias. A cidade precisa disso para mover sua economia e é lider em inovação. Se mantiver o uso das tecnologias móveis como faz hoje, creio que Tóquio será um dos grandes pioneiros deste conceito.
O governo tem um papel maior que as empresas para desenvolver essa conectividade?
É preciso contar com a participação de todos, e isso implica em uma lentidão do processo. Por exemplo: tivemos a ideia de desenvolver soluções por meio dos postes de iluminação pública, como gerar energia para os carros, fornecer informações turísticas e mensagens em um só lugar. Mas o governo resistiu à ideia. Nossos engenheiros tiveram de argumentar que as lâmpadas são um custo grande e desnecessário, entao por que não aproveitá-las para outras coisas? Depois disso, eles adoraram a ideia. É assim que os projetos se viabilizam.
Quais setores têm maior interesse nessas tecnologias?
Da perspectiva do governo, educação e assistência médica. Do ponto de vista das empresas, as áreas de logística, transporte e manufatura. São áreas muito distintas. Assistência médica, por exemplo, tem um baixo custo, enquanto as grandes empresas querem desenvolver uma única plataforma capaz de funcionar em várias partes do mundo, o que é mais custoso.

