Economia & Negócios
Empreendedoras negras na Paraíba transformam dificuldades em conquistas; dados expõem desafios emocionais e sobrecarga
Sobrecarga das mulheres empreendedoras também afeta o desenvolvimento do negócio.
20/11/2024
Por Anna Barros / Portal WSCOM
O Brasil é o 7º país com o maior número de mulheres empreendedoras, com cerca de 10,3 milhões no total. Desse montante, 48% são mulheres negras. Esses dados são do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e demonstram a força feminina para liderar negócios mesmo com as diversas dificuldades que o gênero enfrenta no cotidiano.
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Nesta terça-feira (19), foi comemorado o Dia do Empreendedorismo Feminino e hoje, dia 20, o país é marcado pelo Dia da Consciência Negra. Cada recorte dentro do empreendedorismo enfrenta uma série de adversidades e êxitos. Pensando nisso, o Portal WSCOM conversou com Thainá Mendes (28) e Emanuelle Maria (24), mulheres que estão à frente de seus próprios negócios e que decidiram compartilhar suas vivências que conversam diretamente com essas datas.
Durante e após a pandemia da Covid 19, segundo a CNN, o número de novas empresas cresceu 25,3% em comparação ao período pré-pandêmico. Desse total, 94% representam os microempreendedores, majoritariamente influenciados pelo desemprego causado pela crise sanitária. E esse também foi o caso da Tity Ayaba (@titi_ayaba), empreendimento da Emanuelle, que funciona há quase 11 meses.
Conexão com a ancestralidade como base para empreender
Ambas as marcas possuem ligação direta com a busca de conexão com a ancestralidade. A Ayó Cosméticos (@ayo.cosmeticos), empresa de Thainá, existe há 5 anos e nasceu de um conjunto de valores da empreendedora.
“Sua criação surgiu da minha motivação de ter produtos cosméticos mais duradouros, sustentabilidade e com os saberes ancestrais introduzido em cada produto. Também veio do desejo de cura com as plantas, trazendo a lembrança dos nossos avós, da nossa história, e ter um produto que nos leve a um autocuidado completo! Cosméticos que cuidam da beleza, do nosso físico, psicológico e espiritual”, disse.
Até mesmo no nome, esses valores estão presentes na Ayó. “ [a origem] é iorubá, e significa Felicidade, e de trás pra frente significa Oyá. Ou seja, Ayó – Oyá. Uma homenagem a minha espiritualidade, minha ancestralidade. Ayó significa Felicidade, justamente com essa finalidade de trazer mais alegria através do autocuidado, e Oyá é uma orixá, ela que traz movimento para caminhar, força e coragem”, contou.
“E é algo muito importante pra minha comunidade, gera identificação, resistência, acolhimento, ainda mais se tratando de um local que ainda existe tanto racismo religioso, e falta de consciência de vários tipos. Ayó vem pra quebrar várias barreiras”, continuou.
Falando em quebrar barreiras, a Titi Ayaba também possui esse propósito. A empresa, especializada em tranças nagô, busca ressignificar ideias carregadas de preconceitos.
“Venho de Cidade do interior onde a cultura preta é tratada com bastante preconceito. Homens e mulheres pretas que usam nagô ou tranças soltas são taxados como “ex-presidiários”. Cresci usando a famosa “trança raiz” e ouvindo coisas absurdas sobre. Decidi trazer a cultura novamente pra essa cidade sem esses estereótipos racistas e mostrar que a trança nagô tem história! E traz um impacto muito grande na nossa autoestima”, contou Emanuelle.
Outra semelhança entre as empresas é o segmento. Segundo a pesquisa Empreendedoras e Seus Negócios 2024, realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), 21,5% das empresas fundadas e lideradas por mulheres, são do ramo da beleza, estética e bem-estar. O controverso em questão é que, mesmo investindo no assunto, nem sempre o autocuidado consegue ser executado por essas mulheres.
Impacto na saúde mental
Ainda segundo a pesquisa, a sobrecarga de afazeres atinge majoritariamente as mulheres pretas e pardas. O que, consequentemente, impacta no autocuidado das empreendedoras.
Tanto Thainá quanto Emanuelle sentem esses dados em seus cotidianos. “As maiores dificuldades são justamente em ser uma mulher preta, que precisa se esforçar mil vezes mais, estudar várias coisas ao mesmo tempo, para entender todos os setores da empresa, e para conseguir um reconhecimento”, disse Thainá.
“Lá no comecinho era bem mais difícil. As vezes quero me dividir em muitas (risos), pois é muita coisa pra administrar, mas no final dá tudo certo. Eu ainda consigo me cuidar, quando estou vendo que vou ficar sobrecarregada, paro, respiro fundo converso com minha melhor amiga, vejo a família, rezo, leio meu livro, tenho um momento do meu, mesmo que seja só 10min sabe?… Tudo isso pra não cair em desequilíbrio emocional, pois essas coisas carregam minhas energias”, concluiu.
Listando suas pendências diárias, Emanuelle ressaltou que sente o mesmo impacto. “Afazeres domésticos, a criação de conteúdo, edição, a realização das tranças, atendimento ao cliente, marketing. Com essa demanda, acabo abdicando do lazer e do autocuidado para finalizar essas obrigações”, disse.
Além do impacto no autocuidado, a sobrecarga das mulheres empreendedoras também afeta o desenvolvimento do negócio.
Isso pode ser justificado pela Síndrome de Burnout, termo relativamente novo no Brasil mas que afeta centenas de trabalhadores anualmente. Segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho pelo burnout. E outra pesquisa, dessa vez do Women in the Workplace de 2021, revelou que as mulheres representavam a maioria das pessoas afetadas pela síndrome.
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