Paraíba

Em crônica no “Recanto das Letras”, Damião Ramos Cavalcanti revela histórias em torno da Ponte Poeta Augusto dos Anjos

"As pontes são assim, graças aos rios, têm suas histórias", afirma o escritor, ex-secretário de Cultura e membro da APL


11/01/2025

Secretário de Estado da Cultura, Damião Ramos Cavalcanti

Portal WSCOM



Todas as vezes que escrevo com minha Parker 51, alimentando-a com a tinta azul do tinteiro, lembro-me do passado. Na minha infância, a cidade, já construída, não tinha visto engenhosas construções. O que me marcou, nessas observações de criança, bem perto da minha casa, foi a construção da primeira ponte de Pilar, onde existia, à margem esquerda do rio Paraíba, um terreiro de dança de coco de roda e ciranda, e, às vezes, o Bumba Meu Boi, que foi transformado em canteiro de obra com largo espaço para nossas brincadeiras de criança, que éramos muitas: Domício Pontes, Zezita Matos, Frutuoso Chaves, Lenilda e Hélio Melo, Hélida, Toinho,  José Emílio, primos e filhos do escritor José Augusto de Brito; e ainda, meus irmãos Marilene e Ivan. Como escreveram na sua frontal cabeça, a ponte foi construída em 1956, no governo (1951 – 1957), de José Américo de Almeida.

À meninada era explicada a mágica que a ponte faria de atravessar o Rio Paraíba, sem pisarmos na água e por onde também passariam cavalos, gente, carros, marinetes e caminhões. Nesse sentido, já havia a de Itabaiana, que resistiu à força das águas. Mas, a de Pilar ruiu, depois que uma enorme árvore, arrancada e carregada pela cheia, bateu e derrubou um dos seus pilares. As pontes são assim, graças aos rios, têm suas histórias. Inclusive, por analogia, é dito que, quando nossos relacionamentos se distanciam no outro lado da margem, é preciso fazer a ponte. Contudo, em Memórias de um Aprendiz de Nada, o ex-prefeito pilarense, meu tio José Augusto de Brito, afirma que, em 1957, tal ponte, então construída, destruiu o emprego do violinista “índio Petório”, na sua serventia de canoeiro, atravessando pessoas vestidas, ao outro lado do rio. Bendita foi a vez em que ele atravessou Frei Damião de Bozzano e comitiva, chegados da estação de trem, até o outro lado, onde ficava a igreja.

Agora, bem após esse passado, a crônica Uma Ponte para Augusto, do escritor Francisco Gil Messias, enviada a mim por Manoel Jaime, na qual  “Cleanto e tantos outros”, aos quais Milton Marques e eu nos incorporamos, em nome da maioria dos que fazem a APL, sugere que a nova ponte, a ser erigida no 9,4 km, bem perto da minha casa, deverá ser chamada pelo nome do nosso poeta maior: Augusto dos Anjos. Logo após o condomínio, lê-se um outdoor , que ali será construída a Ponte do Futuro. Mas, chamá-la de Augusto dos Anjos terá mais futuro… Usando palavras de Gil, será consagração, mesmo tardia, maior das merecidas, que lembrará o esquecido por ingratidão, o poeta Augusto dos Anjos. Acreditando em Carlos Pereira do DER, passaremos por ela em meados de 2026, quando se realizarão inúmeros benefícios: Interligará os municípios de Cabedelo, Santa Rita e Lucena, e praias do norte de João Pessoa; desafogará a Br 230, sentido Cabedelo – João Pessoa – Recife; será passagem livre à Br 101, e aproximará a ida a Natal e às cidades e próximas praias do litoral do Rio Grande do Norte.

Ponte Poeta Augusto dos Anjos será de grande repercussão política, mas sobretudo de homenagem e gratidão à fama e singularidade que nosso vate representa à Paraíba e à literatura ocidental. Mesmo, já diante da incredulidade lírica do poeta, em Versos Íntimos, haverá respeito e gratidão da sua gente…



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