O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia está impedida devido a falta de vontade política por parte do bloco europeu. A fala do chefe do Executivo foi feita durante a abertura da 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, em Foz do Iguaçu (PR).
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Segundo Lula, a expectativa era que o acordo fosse assinado neste sábado, a pedido da própria União Europeia, mas isso não se concretizou por resistências internas no continente. A informação foi divulgada em nota oficial da Presidência da República, publicada no site do Planalto.
“Ao cabo de vinte e seis anos de negociações, esperávamos assinar, finalmente, o acordo de associação com a União Europeia. Mas, infelizmente, a Europa ainda não se decidiu. Líderes europeus pediram mais tempo para discutir medidas adicionais de proteção agrícola”, afirmou o presidente.
Lula revelou ter recebido, na sexta-feira (19), uma carta da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, manifestando a expectativa de aprovação do acordo em janeiro. Ainda assim, fez um alerta direto à liderança europeia.
“Sem vontade política e coragem dos dirigentes não será possível concluir uma negociação que já se arrasta por 26 anos. Enquanto isso, o Mercosul seguirá trabalhando com outros parceiros”, disse.
Resistências internas na Europa
Ao detalhar os entraves mais recentes, Lula afirmou que a oposição histórica da França ao acordo já era conhecida, mas que novos obstáculos surgiram na última semana, desta vez relacionados à Itália. Segundo ele, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, enfrenta pressões internas do setor agrícola.
“Não um problema com um acordo firmado entre Mercosul e União Europeia, mas de um acordo firmado entre a própria União Europeia. A Meloni dizia que a distribuição de verba para a agricultura na União Europeia estava prejudicando a Itália”, explicou.
O presidente relatou ter conversado por telefone com Meloni, que teria se comprometido a assinar o acordo no início de janeiro. Segundo Lula, caso a Itália avance, a França ficaria isolada na resistência.
“Se ela estiver pronta para assinar e faltar só a França, segundo a Ursula von der Leyen e o António Costa, não haverá possibilidade de a França sozinha não permitir o acordo”, afirmou.
“O acordo será firmado e eu espero que seja assinado, quem sabe, no primeiro mês da presidência do Paraguai pelo companheiro Santiago Peña”, completou.
Segurança regional e combate ao crime organizado
Durante a cúpula, Lula também destacou avanços obtidos pelo Mercosul na área de segurança pública e justiça. Sob a presidência brasileira, o bloco aprovou a Estratégia do Mercosul de Combate ao Crime Organizado Transnacional (EMCCOT) e criou a Comissão Mercosul contra o Crime Organizado Transnacional (CMCOT).
“Enfraquecer as instituições significa abrir espaço para o crime organizado. A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado, independente de ideologia. O Mercosul demonstrou disposição de enfrentar as redes criminosas de forma conjunta”, declarou.
O presidente lembrou ainda a criação de mecanismos regionais contra o tráfico de drogas, o tráfico de pessoas e a lavagem de dinheiro, além de um grupo de trabalho voltado à recuperação de ativos ilícitos.
Proposta de pacto contra o feminicídio
Outro ponto central do discurso foi o apelo por maior proteção às mulheres na América Latina. Lula propôs a criação de um pacto regional para o enfrentamento do feminicídio.
“A América Latina também ostenta o triste recorde de ser a região mais letal do mundo para as mulheres. Segundo a CEPAL, onze mulheres latino-americanas são assassinadas diariamente”, afirmou. “Gostaria de propor ao Paraguai, que assume hoje a presidência do bloco, que trabalhemos para criar um grande pacto do Mercosul pelo fim do feminicídio e da violência contra a mulher”, acrescentou.
Venezuela, Estados Unidos e riscos de conflito
Lula também se manifestou sobre o aumento das tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, alertando para os riscos de uma escalada militar na região.
“Construir uma América do Sul próspera e pacífica é a única doutrina que nos convém”, disse. “Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”, alertou o presidente.
Integração regional e legado brasileiro
Ao recordar a inauguração da nova ponte entre Brasil e Paraguai, realizada na sexta-feira (19), Lula afirmou que a obra simboliza a integração regional.
“Em um mundo em que erguer muros parece mais fácil do que construir pontes, esse exemplo merece ser lembrado”, afirmou, ao citar a Ponte da Integração, que liga Foz do Iguaçu a Presidente Franco.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fez um balanço da Presidência Pro Tempore brasileira, destacando avanços em áreas como transição energética, desenvolvimento tecnológico, fortalecimento do mercado regional e combate ao crime organizado.
“Estamos confiantes que os alicerces construídos durante esse período abrirão caminho para um futuro ainda mais promissor para o Mercosul”, afirmou Vieira.
A cúpula marcou oficialmente a transferência da Presidência Pro Tempore do Mercosul para o Paraguai, que terá entre suas prioridades a continuidade das negociações com a União Europeia e o avanço do processo de integração da Bolívia ao bloco.
Crédito: Brasil 247
