O Banco Central (BC) avaliou que a economia brasileira segue em um processo de desaceleração gradual, acompanhado pela redução da inflação atual e pela melhora das expectativas para os preços. Apesar desse cenário, a autoridade monetária deixou claro que ainda não há definição sobre quando poderá iniciar a redução da taxa básica de juros, hoje fixada em 15% ao ano, o nível mais elevado em quase duas décadas.
Na ata da reunião mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, o BC reforçou que continuará atento ao cenário econômico e reiterou que não descarta voltar a elevar os juros caso considere necessário. O encontro marcou a quarta decisão consecutiva de manutenção da Selic nesse patamar.
A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para conter a inflação, que afeta de forma mais intensa as famílias de menor renda. Segundo o Copom, embora as expectativas inflacionárias tenham mostrado trajetória de queda em diferentes indicadores e entre vários agentes do mercado, elas ainda permanecem acima da meta em todos os horizontes analisados.
Para o comitê, a condução persistente, firme e equilibrada da política monetária é fundamental para que esse movimento de melhora continue, permitindo que a inflação convirja à meta com custos menores para a economia. O BC ressaltou ainda que, em um contexto de expectativas desancoradas, como o atual, é necessário manter juros elevados por um período mais prolongado do que seria usual em outras circunstâncias.
Enquanto isso, o mercado financeiro segue dividido sobre o momento em que os cortes poderão começar. A maioria dos economistas projeta que a Selic só deve recuar na reunião de março de 2026, quando a taxa passaria para 14,5% ao ano.
De acordo com a ata, a estratégia prudente adotada pelo Banco Central tem contribuído para sinais mais claros de desaceleração da inflação. A instituição reafirmou seu compromisso com o cumprimento da meta e destacou que o atual ambiente exige uma política monetária fortemente contracionista por um intervalo prolongado.
O BC informou que continua monitorando diversos fatores de risco, como o ritmo da atividade econômica, especialmente no setor de serviços, o comportamento das expectativas de inflação, o impacto do câmbio sobre os preços, o balanço de riscos e a dinâmica da inflação corrente.
O Banco Central tem reiterado que um crescimento mais moderado da economia faz parte da estratégia para controlar a inflação. Com menor expansão da atividade, tendem a diminuir as pressões sobre os preços, sobretudo nos serviços.
Na ata divulgada nesta terça-feira (16), o Copom apontou que o chamado “hiato do produto” permanece positivo, indicando que a economia ainda opera acima de seu potencial. Mesmo assim, os dados recentes mostram perda de fôlego. O BC destacou que o PIB mais recente confirmou a desaceleração do crescimento e revelou uma redução no ritmo de expansão do consumo das famílias, que vinha sendo sustentado por ganhos reais de renda.
Segundo o comitê, o enfraquecimento da demanda agregada é peça-chave para o reequilíbrio entre oferta e demanda e para o retorno da inflação à meta.
Como funciona a política de juros
O Banco Central define a Selic com base no regime de metas de inflação. Quando as projeções estão acima do objetivo, a tendência é manter ou elevar os juros; quando estão alinhadas, abre-se espaço para cortes.
Desde 2025, com a adoção do sistema de meta contínua, o centro da meta é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Após seis meses consecutivos de inflação acima desse limite, o BC precisou divulgar uma carta pública explicando os motivos do descumprimento.
A autoridade monetária trabalha com projeções futuras, pois os efeitos das mudanças na Selic levam de seis a 18 meses para se espalhar pela economia. Atualmente, o BC já considera o segundo trimestre de 2027 como referência para avaliar o cumprimento da meta. As estimativas do mercado indicam inflação de 4,36% em 2025, 4,1% em 2026, 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028, todas acima do centro da meta.
Outros pontos de atenção
O Copom também destacou que o cenário internacional, embora menos turbulento do que meses atrás, ainda inspira cautela. O BC segue atento ao mercado de trabalho, que permanece aquecido, apesar de sinais iniciais de esfriamento, e acompanha de perto a política fiscal, que influencia tanto a demanda no curto prazo quanto a percepção sobre a sustentabilidade da dívida pública.
Segundo o comitê, é essencial que as políticas fiscal e monetária atuem de forma coordenada, previsível e crível, para garantir a estabilidade econômica e o controle da inflação no médio e longo prazo.

