A chamada “Superquarta” entregou exatamente o que o mercado projetava, mas reforçou um recado decisivo para os investidores: tanto o Federal Reserve quanto o Banco Central do Brasil permanecerão guiados pelos dados, evitando sinalizar movimentos relevantes na política monetária antes de maior clareza sobre a economia. O tom de cautela deve influenciar a formação de expectativas ao longo das próximas semanas.
Nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que a avaliação sobre emprego e inflação teve pouca alteração desde a última reunião. O FOMC manteve juros na faixa considerada neutra e voltou a destacar que os riscos inflacionários seguem “inclinados para cima”. Powell repetiu que o Fed está “bem posicionado para esperar e ver”, indicando que qualquer mudança dependerá do comportamento das variáveis de preços e atividade.
O banco central norte-americano também anunciou o início das compras de Treasuries de curto prazo, especialmente T-Bills, como forma de assegurar um nível adequado de liquidez no sistema financeiro. O programa passa a ser acompanhado com atenção pelos investidores, por seu potencial de influência sobre a curva americana.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 15% ao ano, movimento já projetado pela maior parte dos analistas. No comunicado, o BC apontou sinais distintos da economia: atividade em desaceleração, mercado de trabalho resistente e inflação ainda acima da meta, apesar de algum alívio recente. Chamou atenção também a persistência das expectativas para 2025 e 2026, atualmente em 4,4% e 4,2%, acima do objetivo de 3%. Na projeção de referência, a inflação estimada para o segundo trimestre de 2027 é de 3,2%.
O colegiado reforçou que os riscos permanecem distribuídos dos dois lados: incertezas internacionais, ambiente geopolítico e preços administrados podem pressionar a inflação, enquanto fatores domésticos, especialmente fiscais, seguem capazes de alterar expectativas e mexer na estrutura da curva de juros.
Como o mercado deve reagir à Superquarta?
Apesar de decisões previsíveis, três vetores devem guiar o comportamento dos ativos:
1- Dados americanos de inflação e atividade
A postura de espera do Fed torna indicadores como PCE, payroll e índices ISM ainda mais relevantes. A inflação continua acima da meta de 2%, o que deixa a precificação futura de juros sensível às próximas divulgações.
2- Curva de juros brasileira e projeções para 2026
Com a Selic estável e o BC sinalizando que não há espaço para cortes no curto prazo, a curva deve responder ao andamento das expectativas inflacionárias e ao cenário fiscal. Qualquer melhora no Focus pode alterar as apostas para o próximo ciclo de política monetária.
3- Fluxo internacional e apetite por risco
Caso a estabilização das Treasuries se confirme após as medidas do Fed e os dados mostrem desaceleração sustentável da inflação americana, emergentes podem atrair mais fluxo, favorecendo o real e a bolsa.
O que esperar daqui para frente?
O período pós-Superquarta será guiado menos pelas decisões dos bancos centrais e mais pela leitura contínua dos indicadores. Tanto o Fed quanto o BC reiteraram que não tomarão decisões sem maior segurança sobre o rumo da economia, dando a números de inflação, atividade e mercado de trabalho o protagonismo nas próximas semanas.
No Brasil, o debate fiscal continuará determinante para a curva de juros. Nos Estados Unidos, a velocidade do retorno da inflação para a meta de 2% segue como a variável central para qualquer ajuste futuro na política monetária.

