As montadoras Ford e Renault anunciaram que irão desenvolver em conjunto uma nova linha de veículos elétricos compactos destinados ao mercado europeu, num momento em que fabricantes tradicionais enfrentam forte pressão de concorrentes chinesas como BYD, Changan e Xpeng. O anúncio foi feito na terça-feira (9), mas as negociações já vinham sendo discutidas desde março, quando uma equipe da Renault visitou a sede da Ford em Detroit.
O CEO da Ford, Jim Farley, afirmou que a iniciativa é uma resposta direta ao avanço das montadoras chinesas, que vêm ganhando terreno com preços mais competitivos. “Sabemos que estamos lutando pela sobrevivência em nossa indústria”, declarou Farley em Paris, na segunda-feira (8). “Não há exemplo melhor do que aqui na Europa.”
O primeiro dos dois modelos elétricos compactos planejados deverá chegar às concessionárias europeias em 2028. Os veículos, que serão produzidos em uma fábrica da Renault no norte da França, serão menores do que qualquer um dos modelos que a Ford projeta para o mercado norte-americano e ajudarão a preencher lacunas na linha da marca, segundo Farley.
Além dos carros compactos, a parceria pretende consolidar a atuação das duas montadoras no segmento de veículos comerciais leves. “Juntas, podemos criar uma potência em veículos comerciais leves na Europa, com a qual seria muito difícil para a China competir”, disse Farley.
Embora ainda haja poucas vans chinesas sendo comercializadas no continente, ele destacou que a disputa já é intensa em mercados emergentes. O CEO da Renault, François Provost, reforçou a urgência da estratégia: “A China chegará em breve e é por isso que não quer esperar.”
Apesar da aproximação, ambas as empresas descartaram a possibilidade de fusão.
A participação da Ford no mercado europeu caiu de 6,1% em 2019 para 3,3% nos primeiros dez meses deste ano. A empresa passou por cortes de funcionários e encerrou as operações da fábrica de Saarlouis, na Alemanha, como parte de uma reestruturação.
Nos Estados Unidos, a montadora enfrenta outro obstáculo: a retirada do apoio do governo Donald Trump ao mercado de veículos elétricos. O cenário pressiona a Ford a dividir investimentos entre tecnologias de combustão e o desenvolvimento de elétricos, que exigem alto custo.
Atualmente, a Ford já produz dois modelos elétricos na Europa usando uma plataforma da Volkswagen e também fabrica vans em parceria com a alemã. Farley afirmou que o acordo com a Renault complementa, e não substitui, a colaboração com a VW.
A Renault, considerada a menor montadora de veículos convencionais da Europa, não atua nos mercados chinês e norte-americano, justamente os dois maiores do mundo. Por isso, a aliança com a Ford amplia sua escala e reduz custos de produção.
A marca francesa tem buscado parcerias para ocupar melhor suas fábricas e diminuir despesas na criação de novos modelos elétricos. Além disso, prepara para 2026 a produção de dois veículos no Brasil usando plataformas da chinesa Geely e negocia novos acordos com outras montadoras, incluindo a Chery.
“Nossa ambição (…) é mostrar que na Europa podemos produzir carros elétricos com a mesma competitividade que qualquer outro fabricante, inclusive os da China”, afirmou Provost.
