Brasil mira protagonismo em minerais estratégicos após avanço nas negociações com EUA

Após sinalização positiva de Washington, governo reforça plano de integrar produção de terras raras a cadeias industriais de alto valor e evitar papel de simples exportador.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu na última quinta-feira (20) que o Brasil aprofunde sua integração produtiva com os Estados Unidos no setor mineral. A declaração foi feita ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um vídeo divulgado horas depois do anúncio do presidente Donald Trump sobre o fim da tarifa extra de 40% sobre produtos do agronegócio brasileiro.

“O que interessa não é esse tipo de sanção ou mal-entendido. O que interessa é adensar as cadeias produtivas, aproveitar nossos minerais para produzir baterias, carros elétricos e energia limpa aqui”, disse Haddad.

As discussões sobre um acordo de fornecimento seguro de terras raras se tornaram peça central das conversas entre Brasília e Washington desde o início do “tarifaço” americano. Em outubro, o encarregado de Negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, se reuniu com autoridades brasileiras e sugeriu a criação de um grupo de trabalho binacional para tratar do tema.

A busca americana por novos parceiros ganhou força após a China impor restrições à exportação de terras raras. Embora existam reservas distribuídas pelo planeta, Pequim domina quase toda a cadeia: cerca de 60% da mineração global, 91% do refino mundial e 94% da produção de ímãs permanentes, essenciais para turbinas, motores elétricos e equipamentos de defesa.

A Agência Internacional de Energia (IEA) alerta que essa concentração representa um risco geopolítico crítico, permitindo à China influenciar preços, limitar o acesso de rivais e condicionar o ritmo de inovação em áreas sensíveis como semicondutores, veículos elétricos e armazenamento de energia. Para os EUA, o impacto pode atingir sua superioridade militar e tecnológica.

Nesse cenário, o Brasil ganha relevância: o país possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, embora ainda explore ou refine muito pouco desse potencial. Falta um marco regulatório específico e a cadeia produtiva local ainda está em fase inicial. Mesmo assim, empresas ocidentais começaram a investir em pesquisas e projetos no território brasileiro.

Um exemplo é a australiana Viridis Mining & Minerals, que anunciou um centro de pesquisa e processamento em Poços de Caldas (MG), totalmente livre de tecnologias chinesas. A meta é consolidar o Projeto Colossus, no sul de Minas, como uma alternativa ocidental dentro da cadeia global de minerais críticos.

O governo brasileiro, contudo, insiste que o país não deve se limitar a exportar matéria-prima. A estratégia é atrair transferência de tecnologia, estimular a industrialização local e garantir participação relevante do Brasil nas cadeias de valor da economia verde e nos setores de alta tecnologia.

Mais Posts

Tem certeza de que deseja desbloquear esta publicação?
Desbloquear esquerda : 0
Tem certeza de que deseja cancelar a assinatura?
Controle sua privacidade
Nosso site utiliza cookies para melhorar a navegação. Política de PrivacidadeTermos de Uso
Ir para o conteúdo