Impulsionado por IA e nuvem, Brasil espera investimentos de até R$ 100 bilhões em data centers

O Brasil espera R$ 100 bilhões em investimentos em data centers (impulsionados por IA e nuvem). O setor busca superar o custo de energia com a MP Redata (tributação).

(Foto: Reprodução)

O setor tecnológico do Brasil está prestes a entrar em uma de suas melhores fases, com investimentos que podem ultrapassar os R$ 60 bilhões. De acordo com reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, os aportes em data centers nos próximos anos, de acorso com projeções otimistas, podem chegar a R$ 100 bilhões. O avanço da inteligência artificial, juntamente com a migração de serviços para a nuvem e o aumento da necessidade de armazenamento de dados impulsionam o movimento.

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Especialistas ouvidos pelo Valor apontam que, embora o número de grandes operadores ainda seja limitado, o Brasil se tornou um destino estratégico para gigantes globais do setor. Os projetos previstos até o fim da década somam cerca de 2 gigawatts de capacidade, ainda que parte desse volume possa não se concretizar, segundo fontes do setor.

Mercado em expansão e investimentos bilionários

O cálculo utilizado pelos analistas indica que cada 1 gigawatt de capacidade exige investimentos entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões. Atualmente, a infraestrutura instalada no país gira em torno de 800 megawatts, bem abaixo da demanda projetada pela digitalização acelerada da economia.

O país registrou recentemente o anúncio do primeiro data center de grande porte no Brasil — estruturas a partir de 200 MW — feito pela Tecto, braço da V.Tal. Até então, a média dos data centers nacionais variava entre 20 MW e 30 MW.

A escalada de novos projetos, porém, esbarra em desafios. O consumo energético é um dos principais: data centers já representam 2% de toda a energia consumida no mundo. Ainda assim, o Brasil se destaca por contar com uma matriz energética majoritariamente limpa, fator que aumenta a atratividade de investimentos e pode ajudar a absorver o excesso de geração de energia solar e eólica durante o dia.

Em artigo citado pelo Valor, Dora Kaufman, professora da PUC-SP e pesquisadora de inteligência artificial, defendeu que o governo brasileiro exija contrapartidas ambientais ao conceder benefícios ao setor, priorizando o uso de fontes renováveis.

Gigantes globais de olho no país

Entre os principais grupos que expandem presença no Brasil estão Ascenty, da Brookfield, Digital Realty e Scala, controlada pelo fundo norte-americano DigitalBridge. A Scala chegou a contratar o Deutsche Bank para avaliar uma possível venda, mas a operação foi suspensa diante de propostas abaixo do esperado, conforme apuração do Valor.

Estudo da consultoria Oliver Wyman indica que a capacidade operacional global de data centers deve dobrar até 2029, impulsionada pela inteligência artificial e pela migração de dados para serviços de nuvem. Atualmente, a nuvem representa cerca de 30% de toda a capacidade global, podendo chegar à metade nos próximos anos.

Governança, tributação e gargalos

O governo federal tem buscado destravar investimentos e, em setembro, anunciou a Medida Provisória Redata, que cria um regime específico de tributação para data centers, incluindo isenções fiscais. Apesar da boa disponibilidade de energia renovável, o alto custo da energia no Brasil ainda reduz a competitividade frente a outros mercados.

Para João Auler, responsável pela área de infraestrutura do UBS BB, o interesse internacional cresce rapidamente: “Não me surpreenderia escutar nos próximos três a seis meses contratos de 300 a 500 megas sendo negociados”, afirmou.

No mesmo sentido, Daniel O’Czerny, diretor de financiamento de infraestrutura do Citi na América Latina, observou que projetos que antes tinham 200 MW no exterior agora chegam a 3 gigawatts, refletindo o avanço da IA. Segundo ele, a América Latina seguirá a mesma tendência, ampliando o porte dos projetos. No caso do Brasil, no entanto, o foco continuará sendo atender a demanda de nuvem (cloud): “O mercado local terá uma vocação diferente [do que o dos Estados Unidos]”, disse.

Demanda alta e interesse crescente de investidores

Segundo Roderick Greenless, chefe global do banco de investimento do Itaú BBA, o interesse de grandes fundos de infraestrutura no setor tem aumentado significativamente: “Eles estão olhando oportunidades”, afirmou.

Para Vinicius Miloco, da Oliver Wyman, apesar do potencial do Brasil como hub regional, há obstáculos importantes — entre eles o alto custo da energia, que representa 40% a 60% dos gastos de um data center, e a carga tributária elevada, parcialmente endereçada pelo Redata. “Esse é um dos mercados mais aquecidos em termos de interesse de investimento dos últimos tempos”, destacou.

Miloco observa também que há interesse de operadores estrangeiros em comprar estruturas já existentes, acelerando a entrada no mercado — embora isso implique custos maiores, já que os múltiplos de valuation estão acima de 20 vezes o Ebitda.

Crédito: Brasil 247

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