O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (4), durante o Bloomberg Green Summit, em São Paulo, que o governo Lula deve encerrar o mandato em estabilidade econômica. Ele apontou a reforma tributária, o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda e o baixo índice de desemprego como sinais de avanço.
Segundo Haddad, o país vive um período de consolidação econômica e de confiança entre investidores. “O Brasil, nos últimos três anos, fez muita coisa importante para criar um ambiente de negócios favorável. E isso já está sendo percebido pelos investidores”, afirmou. O ministro destacou ainda o número recorde de leilões de infraestrutura na B3 e os efeitos positivos das reformas estruturais em andamento.
Reforma tributária e Imposto de Renda
A reforma tributária, aprovada em 2023, foi apontada como um dos marcos da atual gestão. De acordo com Haddad, mesmo as projeções mais cautelosas estimam que a simplificação do sistema de impostos pode elevar o PIB em até 12%, chegando a 20% no cenário mais otimista.
Ele também mencionou a reforma do Imposto de Renda, com votação prevista no Senado ainda nesta terça-feira. A proposta, já aprovada por unanimidade na Câmara, aumenta a faixa de isenção para R$ 5 mil mensais. “A desigualdade no Brasil impede o crescimento. Não existe crescimento com desigualdade”, disse o ministro.
Resultados fiscais e metas do governo
Haddad afirmou que o governo deve apresentar o melhor resultado fiscal desde 2015, mesmo após quitar dívidas deixadas pela administração anterior. “Teremos a menor inflação em quatro anos, o menor desemprego da série histórica e o maior crescimento desde 2010”, declarou.
Ele rebateu críticas sobre o cumprimento das metas fiscais e negou qualquer intenção de alterá-las. “Desde 2023, estão dizendo que eu vou mudar a meta porque não vou cumpri-la. Ou a gente olha para a realidade do Brasil e rema a favor do país, ou continuaremos presos a narrativas”, afirmou.
De acordo com o ministro, as discussões sobre as contas públicas estão sendo conduzidas “pelos investidores, e não pelos jornais”. “O que me preocupa é o dinheiro que está entrando no Brasil”, completou.
A meta fiscal de 2025 prevê déficit zero, com tolerância para um resultado negativo de até 0,25% do PIB, equivalente a R$ 31 bilhões. Já em 2026, o objetivo é alcançar superávit primário de 0,25% do PIB, também com faixa de tolerância.
Após o Congresso rejeitar a medida provisória que previa novas fontes de arrecadação, como o aumento do IOF sobre investimentos e apostas esportivas, o governo busca alternativas para fechar o Orçamento de 2026 sem elevar tributos.
Juros e crescimento econômico
Durante o evento, Haddad defendeu a redução da taxa de juros, afirmando que o atual patamar é insustentável. “Vão ter que cair, vão ter que cair. Por mais pressão que os bancos façam sobre o Banco Central para não baixar juros, elas vão ter que cair. Não tem como manter 10% de juro real com inflação de 4,5%. Você vai sustentar um juro de 15% em nome do quê?”, questionou.
O Brasil possui atualmente o segundo maior juro real do mundo, com taxa básica (Selic) em 15% ao ano, segundo o Copom. O juro real, descontada a inflação esperada, está em 9,53%, conforme levantamento do MoneYou.
Questionado sobre a reunião do Banco Central marcada para quarta-feira (5), Haddad disse que, se fosse membro do comitê, “votaria pela queda, porque não se sustenta 10% de juro real. Não faz sentido”.
O ministro reforçou que o crescimento econômico depende do controle da dívida e da redução dos custos financeiros. “É mais fácil convencer dez pessoas da equipe econômica do que 513 deputados, mas estamos avançando com paciência e no ritmo que a economia permite”, afirmou.
Transição energética e sustentabilidade
Ao tratar da transição energética, Haddad destacou que o Brasil tem vantagens competitivas na pauta climática. “Independentemente do que o Bill Gates ache, o Brasil tem energia limpa e barata. Não faz sentido trocá-la por energia suja e cara”, disse.
Ele ressaltou a tradição brasileira em biocombustíveis e a importância de fortalecer o marco regulatório do setor elétrico, apesar das pressões de grupos de interesse. “O Brasil tem 40 anos de tradição em biocombustíveis, e não vamos abdicar dessa agenda”, afirmou.
Haddad também destacou a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), apoiado pelo Banco Mundial, como uma das prioridades brasileiras na presidência da COP30. “Se colocarmos esse fundo de pé, teremos resultados práticos e eficientes. Preservar florestas é bom para todos, sempre, e a um custo muito baixo diante dos benefícios”, concluiu.
