Um estudo da Tendências Consultoria, divulgado pelo G1, mostrou que a mobilidade social, ou seja, a capacidade de uma pessoa melhorar de vida e subir de classe, segue em queda, especialmente entre os grupos de menor renda. O levantamento indica que a educação não tem se traduzido em produtividade e que fatores como informalidade, baixos salários e desigualdade estrutural limitam as chances de ascensão.
Para o economista Acilino Alberto Madeira Neto, o problema começa com a falta de oportunidades iguais desde a base. “No Brasil, há uma dificuldade enorme dessa ascensão social. É um desafio muito grande. O que dificulta é a educação, o mercado de trabalho e a perpetuação da desigualdade”, afirmou.
Acilino ressalta que a educação ainda é o principal caminho para romper esse ciclo, mas que a qualidade do ensino público continua muito abaixo da rede privada, o que reflete diretamente na produtividade.
“A educação no Brasil não é uniformizada. Quem mora em regiões desenvolvidas têm acesso a um ensino muito melhor do que quem vive em regiões pobres. O mundo do trabalho não pode estar dissociado do mundo educacional. O que se faz para mudar esse cenário? Educação”, enfatizou.
O economista e doutor em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Alexandre Nascimento, também aponta que ter mais anos de estudo não garante melhoria de vida para os mais pobres.
“Mesmo com mais anos de estudo, muitas pessoas continuam enfrentando dificuldades porque o sistema educacional brasileiro ainda apresenta grandes desigualdades de qualidade. Ter mais anos na escola não significa adquirir as habilidades que o mercado de trabalho valoriza”, afirmou.
Segundo ele, escolas com infraestrutura precária e ensino desconectado das demandas do mercado tornam difícil a conversão de educação em produtividade.
Informalidade e baixos salários perpetuam desigualdade
A informalidade segue sendo uma das principais barreiras à mobilidade social. “A informalidade cria cidadãos e cidadãs de segunda categoria. Ela gera baixos salários e contribui para a manutenção da desigualdade no país”, avaliou Acilino Alberto.
Alexandre Nascimento complementa que trabalhadores informais ganham menos e não têm acesso a direitos básicos, o que agrava o ciclo de pobreza.“Trabalhadores informais geralmente ganham menos, não têm carteira assinada e ficam sem direitos como FGTS, férias e aposentadoria. Isso faz com que a pobreza se repita de geração em geração”, afirmou.
Para ele, a solução passa pela formalização do trabalho e pelo fortalecimento de políticas de valorização do salário mínimo. “Reduzir a informalidade não é apenas uma questão de justiça social, é também uma forma de fortalecer a economia como um todo”, destacou.
O estudo da Tendências aponta ainda que a desaceleração do mercado de trabalho e o reajuste nulo do Bolsa Família em 2026 devem reduzir o ritmo de crescimento das classes mais baixas.
“O Bolsa Família é um instrumento para mitigar a pobreza. Se não há reajuste, há uma queda brusca no poder de compra dessas famílias, e isso acelera a desigualdade de renda, social, cultural e política”, alertou Acilino.
Nascimento ainda lembra que, segundo o Atlas da Mobilidade Social, menos da metade dos brasileiros nascidos entre 1983 e 1990 está em situação melhor que a dos pais, e apenas 10% dos mais pobres chegam ao grupo dos 25% mais ricos.
“O ponto de partida das pessoas, ou seja, a renda e o nível de educação das famílias em que nascem, ainda determina fortemente o destino delas. Sem mudanças estruturais, o Brasil continuará reproduzindo um ciclo em que a origem social define o futuro”, concluiu.
