Depois de seis anos sem se reunirem, os presidentes Donald Trump e Xi Jinping firmaram uma trégua comercial de um ano entre Estados Unidos e China, durante a cúpula da Apec, em Busan, na Coreia do Sul. O entendimento, divulgado na madrugada desta quinta-feira (30), interrompe temporariamente a escalada de restrições e tarifas que vinha elevando as tensões entre as duas potências.
O comunicado conjunto divulgado após o encontro informa que Washington e Pequim decidiram adiar por doze meses a adoção de medidas que impactariam setores estratégicos. A China suspenderá os controles de exportação sobre terras raras, e os EUA congelarão novas restrições tecnológicas impostas a subsidiárias de empresas chinesas.
“O problema das terras raras foi resolvido”, afirmou Trump, descrevendo o encontro como “incrível”. O presidente acrescentou que os entendimentos serão revisados anualmente, mas podem se prolongar por mais tempo.
Segundo o líder norte-americano, o acordo evita a volta de tarifas que poderiam ultrapassar 100% sobre determinados produtos. O encontro, que durou cerca de 100 minutos, representou uma mudança de tom entre os dois governos. Antes da reunião, Trump chamou Xi de “grande líder de um grande país”, e o presidente chinês respondeu que os dois países devem ser “amigos e parceiros”.
Detalhes do acordo
Entre as medidas acordadas, os Estados Unidos reduziram de 20% para 10% as tarifas sobre produtos chineses relacionados ao fentanil, enquanto a China se comprometeu a reforçar o combate à exportação de precursores químicos usados na produção do opioide. A taxa média sobre exportações chinesas cai, assim, para 45%.
O Ministério do Comércio da China confirmou que ambos os países suspenderam por um ano as tarifas recíprocas sobre embarcações e empresas de logística. Também houve consenso sobre a cooperação agrícola, com a retomada das compras de soja americana por parte de Pequim.
Ainda segundo o comunicado chinês, as duas nações assumiram o compromisso de “resolver adequadamente” as pendências relacionadas à operação do TikTok nos Estados Unidos. Trump destacou que a China aceitou a ideia de permitir controle americano sobre a plataforma no território norte-americano.
O presidente americano mencionou também que a China começará a importar energia dos EUA, citando em uma publicação no Truth Social um projeto de gasoduto de GNL no Alasca, avaliado em US$ 44 bilhões.
Trump, porém, afirmou que não discutiu o chip Blackwell de última geração da Nvidia com Xi, o que frustrou expectativas de avanço para a empresa, interessada em manter espaço no mercado chinês de inteligência artificial, avaliado em cerca de US$ 50 bilhões.
O tema de Taiwan, território democrático reivindicado por Pequim e aliado de Washington, também não entrou nas conversas, segundo Trump. Pouco antes da reunião, o presidente americano autorizou a retomada dos testes nucleares dos EUA após 33 anos, citando o crescimento dos arsenais da Rússia e da China.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou nesta quinta-feira que espera que os EUA mantenham a moratória nos testes nucleares.
Durante o encontro, Xi Jinping declarou, por meio de tradutor, que “é normal que os dois lados tenham atritos de vez em quando”. Segundo ele, “o desenvolvimento e a revitalização da China não são incompatíveis com o objetivo do presidente Trump de ‘Tornar a América Grande Novamente’”.
A mídia estatal chinesa classificou a reunião como um triunfo da diplomacia de Xi. “Temos a confiança e a capacidade de enfrentar todos os tipos de riscos e desafios”, afirmou o presidente à agência Xinhua.
A Casa Branca informou que o encontro deve ser o primeiro de uma série. Ficou definido que Trump visitará a China em abril de 2026, e Xi fará uma visita de retorno aos Estados Unidos.
Reação dos mercados
Mesmo com o anúncio, os mercados financeiros reagiram de forma tímida. Nas primeiras horas da manhã, os futuros de Nova York operavam em leve queda: Dow Jones -0,17%, S&P 500 -0,03% e Nasdaq -0,03%.
“A resposta dos mercados tem sido cautelosa, em contraste com a caracterização entusiasmada de Trump sobre a reunião”, afirmou Besa Deda, economista-chefe da consultoria William Buck.
Nas semanas que antecederam o encontro, bolsas de todo o mundo, de Wall Street a Tóquio, haviam registrado altas expressivas com a expectativa de um avanço no diálogo entre as duas economias, cujas disputas comerciais vinham afetando cadeias produtivas e a confiança global.

