A inflação brasileira subiu em setembro, pressionada pelo aumento expressivo da energia elétrica, apesar da continuidade da queda nos preços dos alimentos. De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou 0,48% no mês, após ter recuado 0,11% em agosto. Foi o maior avanço mensal desde março deste ano, quando a taxa ficou em 0,56%.
Com o resultado, a inflação acumulada em 12 meses passou de 5,13% para 5,17%, afastando-se da meta de 3,0% estabelecida pelo Banco Central (BC), que admite variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O desempenho, contudo, ficou ligeiramente abaixo das projeções do mercado. Segundo pesquisa da Reuters, analistas esperavam alta de 0,52% no mês e de 5,22% no acumulado anual.
A maior contribuição para a alta do IPCA veio da energia elétrica residencial, que aumentou 10,31% em setembro, revertendo a queda de 4,21% registrada no mês anterior. O resultado foi influenciado pelo fim do desconto do Bônus de Itaipu, repassado anualmente aos consumidores, e pela cobrança da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que acrescenta R$ 7,87 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
Para outubro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou a mudança para a bandeira vermelha patamar 1, que reduz a cobrança extra para R$ 4,46 por 100 kWh.
Com isso, o grupo Habitação apresentou o maior avanço entre os segmentos pesquisados, subindo 2,97% em setembro após recuar 0,90% em agosto, o maior aumento mensal desde fevereiro de 2025. Segundo o gerente do IPCA, Fernando Gonçalves, “considerando os meses de setembro, a alta do grupo foi a maior desde 1995, quando subiu 4,51%”.
No acumulado do ano, a energia elétrica residencial já registra aumento de 16,42%, e em 12 meses, 10,64%.
O grupo Transportes teve leve alta de 0,01% em setembro, revertendo a queda de 0,27% em agosto. Os combustíveis contribuíram para o resultado, com alta de 0,87%. O etanol subiu 2,25%, a gasolina 0,75% e o diesel 0,38%. O gás veicular foi o único a cair, com redução de 1,24%. Já as passagens aéreas registraram queda de 2,83%.
Pelo quarto mês consecutivo, o grupo Alimentação e bebidas apresentou deflação, recuando 0,26% em setembro. A alimentação no domicílio teve queda de 0,41%, com destaque para produtos como tomate (-11,52%), cebola (-10,16%), alho (-8,70%), batata-inglesa (-8,55%) e arroz (-2,14%).
“O grupamento dos alimentos para consumo em casa segue com variações negativas, dada a maior oferta dos produtos, o que possivelmente já reflete na alimentação fora, com a queda nos preços na refeição”, explicou Gonçalves.
Os serviços, por sua vez, registraram desaceleração: alta de 0,13% em setembro, contra 0,39% em agosto. No acumulado de 12 meses, esse grupo ainda apresenta elevação de 6,14%, sustentada pela resiliência do mercado de trabalho e pela renda elevada das famílias, fatores que continuam sob observação do Banco Central.
O índice de difusão, que mede o percentual de itens com aumento de preço, caiu de 57% para 52% no mês, indicando um espalhamento menor das altas.
No mês passado, o Banco Central optou por manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, sinalizando que pretende mantê-la estável por um período prolongado, em busca da convergência da inflação à meta.
De acordo com as projeções do próprio BC, o IPCA deve se aproximar do centro da meta apenas no primeiro trimestre de 2028. A pesquisa Focus, divulgada semanalmente pela instituição, aponta que o mercado espera o encerramento de 2025 com inflação de 4,80% e Selic igualmente em 15%.