Sumé, no Cariri paraibano, vem se consolidando como um polo emergente de inovação e pesquisa no semiárido nordestino. O avanço é impulsionado pela atuação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Sumé, que há 16 anos incentiva projetos voltados ao desenvolvimento regional sustentável. A iniciativa é fortalecida por parcerias com o Sebrae/PB e o Pacto Novo Cariri, movimento de líderes locais que une o poder público, instituições de ensino e empreendedores.
Segundo o diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA/UFCG), Franklin Ferreira de Farias, a presença da universidade gerou impactos diretos na economia e na cultura da região.

Foto: Lara Ribeiro/ Portal WSCOM
“Hoje temos cerca de 90 professores, 50 técnicos e mais de 500 alunos ativos, além de pesquisas que fortalecem as cadeias produtivas locais e reduzem o êxodo de jovens”, explica Franklin.
Um dos trabalhos de destaque é da coordenadora do laboratório de microbiologia da UFCG, Glauciane Coelho, que há quase uma década pesquisa o uso de fungos na produção de corantes naturais. O objetivo é substituir pigmentos sintéticos por alternativas sustentáveis e de baixo impacto ambiental.

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“Isolamos um fungo do tanque de compostagem que produz um corante vermelho e outro que gera pigmentos amarelos. Esses compostos podem ser aplicados na indústria têxtil e cosmética. Estamos inclusive estudando a produção de melanina com potencial uso em protetores solares e materiais espaciais”, detalha Glauciane.

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Além disso, o grupo atua em tratamentos de efluentes da produção de café solúvel, problema ambiental grave na região. O projeto já tem parceria com a USP e caminha para o registro de patente.

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A força do desenvolvimento local também vem da atuação conjunta de lideranças regionais. O Pacto Novo Cariri, fundado há 25 anos, integra o ecossistema de inovação articulado pelo Sebrae Paraíba. Para Madalena Arruda, gerente regional do Sebrae/PB, o pacto é uma “espinha dorsal” do desenvolvimento no interior.
O Sebrae apoia projetos como o Cisco Agro, voltado à certificação de produtos da agricultura familiar e da Caatinga, e promove eventos de sustentabilidade com base em pesquisas da UFCG sobre biogás e recuperação de áreas degradadas.
A ex-prefeita Niedja Siqueira, uma das fundadoras do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Cariri, relembra como a mobilização política regional foi essencial para trazer a universidade ao interior.
“A gente uniu todos os prefeitos, de diferentes partidos, e desceu a pé sob o sol do meio-dia pedindo a criação da UFCG. O resultado é essa transformação que vemos hoje em Sumé e Monteiro. Educação e saúde foram as bases do nosso desenvolvimento”, lembra Niedja.

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O movimento deu origem à UFCG em Sumé (2009) e ao Instituto Federal da Paraíba (IFPB) em Monteiro.
Atualmente, o campus da UFCG conta com sete cursos de graduação, entre eles Engenharia de Biotecnologia e Bioprocessos, Agroecologia, Engenharia de Biossistemas e Gestão Pública, além de programas de pós-graduação. Mais de R$ 2 milhões por ano são investidos em assistência estudantil, garantindo moradia e alimentação gratuitas para alunos de baixa renda.
O desafio, segundo Franklin, é aumentar a retenção de talentos e a integração com o setor produtivo local. “Precisamos fortalecer o vínculo entre a mão de obra formada e as cadeias produtivas regionais. Só assim deixaremos de exportar talentos e passaremos a gerar inovação dentro do Cariri”, conclui.