CONFLITO INTERNACIONAL E O IMPACTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA
Com a escalada da tensão entre Rússia e Ucrância ocasionada pelos primeiros bombardeios soviéticos ao país vizinho, a grande pergunta que surge é: Qual o impacto dessa guerra para a economia brasileira, em especial o setor da construção?
De maneira resumida, o primeiro impacto é um choque na inflação. A economia brasileira é uma grande importadora de combustíveis derivados do petróleo, e grande parte desses produtos sofre influência direta do valor da matéria prima negociada em dólar no mercado internacional, impactando imediatamente o preço da gasolina e do diesel no Brasil, que já estão em níveis elevados desde o início da pandemia e estão pressionando fortemente os indicadores locais de inflação (Gráfico 01).
Gráfico 01 – Preço do Barril de Petróleo no Mercado Internacional
Fonte: Trading View (24/02/2022).
Desde que começaram os primeiros rumores de uma invasão russa na Ucrânia, que o mercado internaiconal começou a precificar os pontenciais efeitos de uma guerra entre os dois países no valor do petróleo.
Como a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do planeta, com uma participação de cerca de 12% no comércio mundial, perdendo apenas para a Arábia Saudita, com uma fatia de quase 15% do globo, uma possível quebra na produção soviética impactaria diretamente o preço da commoditie no mercado internacional. Dessa forma, o indicador que mede o preço do petróleo bruto, já alcança o valor recorde de cotação chegando a U$ 105 o barril.
Os outros dois impactos que a economia brasileira sentirá são derivados do choque inflacionário, que são maiores juros e baixo crescimento. O aumento da inflação pode ocasionar uma ação mais rígida do Banco Central, que deve agir mais fortemente nos juros para conter o avanço dos preços. E uma alta expressiva na Taxa Básica de Juros vai influenciar diretamente a atividade econômica e os financiamentos imobiliários, que devem sofrer com um ritmo mais lento devido ao cenário de incertezas.
Com relação ao impacto nos financiamentos imobiliários, os números já trazem uma desaceleração. Os últimos dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) sobre o volume de financiamento com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), demostram uma queda no valores financiados em todo o país, percebe-se claramente uma reversão de tendência desde agosto do ano passado, conforme visualizado no Gráfico 02.
Gráfico 02 – Volume de Financiamento Imobiliário com Recurso do SBPE
Fonte: Elaboração Sinduscon-JP com dados da Abecip (2022).
Com relação aos impactos na construção civil é indispensável analisar o preço dos insumos negociados no mercado internacional. Um dos principais indicadores que merece atenção nesse momento de conflito é o preço do minério de ferro, que alcançou uma valorização expressiva no primeiro semestre do ano passado, mas recuou rapidamente na segunda metade do ano.
Da mesma forma que a variação sofrida pelo preço do petróleo, o índice que mede o valor do minério em dólar, começou a subir após as primeiras investidas militares da Rússia em direção à fronteira ucraniana. É interessante perceber que o indicador já recuperou quase 50% da queda registrada no final do ano de 2021 e segue uma trajetória de alta (Gráfico 03).
Gráfico 03 – Cotação do Minério de Ferro no Mercado Internacional
Fonte: Trading View (24/02/2022).
No tocante ao cobre, outro insumo largamente utilizado na construção civil do país, que também tem seu valor cotado no mercado internacional, é possível enxergar um crescimento no preço em meado de maio de 2021, com uma queda no mês subsequente, e alcançando novamente um pico em outubro. Apesar das oscilações registradas nos últimos meses, o indicador aponta para uma nítida trajetória de alta intensificada no último mês, como pode ser verificado no Gráfico 04.
Gráfico 04 – Preço do Cobre no Mercado Internacional
Fonte: Trading View (24/02/2022)
O último indicador de referência a ser observado é preço do Dólar em relação ao Real. Esse por sua vez alcançou um valor próximo de R$ 6 no início de 2021, caindo fortemente em seguida, atingindo o menor valor em julho. Mas subiu novamente na segunda metade do ano. Em 2022, houve uma mudança de trajetória, o valor da moeda começou a cair, atingindo R$ 5 na última semana de fevereiro, conforme visualizado no gráfico abaixo.
Vale observar que esse movimento de baixa foi ocasionado pela entrada de investimento estrangeiro no país. O fluxo positivo fez com que o preço da moeda internacional em relação ao Real caísse, e com isso barateou o valor dos produtos importados.
Gráfico 05 – Preço do Dólar em Relação ao Real
Fonte: Trading View (25/02/2022).
Embora haja um cenário relativamente estável neste momento para a moeda internacional no país, há uma expectativa de reversão de tendência no valor do dólar pelo mercado financeiro com a escalada do conflito no leste europeu, podendo impactar no preço dos insumos utilizados na construção civil.
Diante do exposto fica claro que todos os indicadores estão diretamente alinhados com o avanço do conflito armado entre a Ucrânia e Rússia. Mesmo com essa fotografia econômica do momento, o cenário é preocupante, pois todo esse movimento de invasão territorial no leste europeu pode impactar negativamente as economias mundiais e interferir na cotação dos insumos no curto prazo, dado a queda do comércio mundial. Assim, torna-se necessário o acompanhamento diário dos indicadores de preço internacionais para uma melhor previsão quanto aos custo desses insumos na construção civil local.
Elaboração: Depecon – Sinduscon/JP
Economista: Werton Oliveira
