Trump pode tentar interferir nas eleições de 2026, avalia governo Lula

Apesar da aproximação entre Lula e Trump, Planalto vê risco de ingerência dos EUA a favor da direita

Lula e Donald Trump

BRASIL 247 – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que a relação institucional com a Casa Branca não elimina o risco de uma eventual interferência dos Estados Unidos no processo eleitoral brasileiro de 2026. Integrantes do Palácio do Planalto consideram que gestos recentes de distensão não significam, necessariamente, uma mudança estrutural na postura externa de Washington. As informações são da Folha de São Paulo.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, tem adotado uma estratégia pragmática em relação a países da América Latina, combinando pressão política e incentivos econômicos de acordo com seus interesses eleitorais e ideológicos.

Na avaliação de um alto funcionário do governo Lula, a retirada parcial de tarifas sobre produtos brasileiros e o recuo em sanções previstas na Lei Magnitsky podem ter representado apenas um movimento tático. A percepção interna é de que essas decisões ocorreram após a tentativa frustrada de impedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e não significam garantia de neutralidade futura por parte do governo norte-americano.

O Planalto observa com atenção precedentes recentes. Na Argentina, durante a eleição legislativa, Trump condicionou a liberação de um pacote de ajuda financeira estimado em US$ 20 bilhões ao desempenho eleitoral do partido do presidente Javier Milei. Já em Honduras, o então apoio explícito do presidente dos EUA ao candidato da ultradireita Nasry “Tito” Asfura gerou forte reação do governo local.

A presidente hondurenha Xiomara Castro, de orientação progressista, chegou a afirmar que o país enfrentou um “golpe eleitoral” em razão da “interferência do presidente dos Estados Unidos”. Antes do pleito, Trump declarou que a candidata governista, Rixi Moncada, era comunista e que uma eventual vitória representaria a entrega do país ao presidente venezuelano Nicolás Maduro e a seus “narcoterroristas”.

Na véspera da eleição, Trump concedeu indulto ao ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, aliado político de Asfura, que havia sido condenado a 45 anos de prisão por tráfico de cocaína para os Estados Unidos. Passado quase um mês do pleito, o resultado oficial ainda não foi concluído. Asfura aparece à frente, com pequena vantagem sobre o conservador Salvador Nasralla, enquanto uma apuração especial segue em andamento.

Na semana passada, o Departamento de Estado norte-americano revogou um visto e cancelou outro de duas autoridades eleitorais ligadas ao partido de Xiomara Castro, sob a alegação de que estariam interferindo na contagem dos votos. O episódio reforçou, no entendimento do governo brasileiro, a necessidade de adotar medidas preventivas diante de possíveis pressões externas.

Entre essas iniciativas está o reforço da cooperação bilateral no combate ao crime transnacional, anunciado recentemente. Segundo integrantes do Planalto, a estratégia busca reduzir espaços para narrativas que possam justificar ingerências políticas ou diplomáticas. O tema do narcotráfico tem sido utilizado por Trump como argumento para ações no Caribe e para ameaças de natureza militar contra a Venezuela.

A cooperação também teria servido, de forma preventiva, para neutralizar tentativas de grupos bolsonaristas de buscar apoio externo sob o pretexto do combate ao crime organizado no Brasil. Para o governo Lula, a política internacional terá um peso inédito na próxima eleição presidencial, e a expectativa é de que Trump declare apoio aberto ao candidato da direita brasileira, mais alinhado ideologicamente ao atual governo dos EUA.

No cenário regional, autoridades brasileiras mantêm atenção redobrada em relação à Venezuela, especialmente durante o período de recesso. Há preocupação com a possibilidade de uma intervenção militar norte-americana, e fontes admitem que Washington não tem demonstrado disposição para ampliar o papel do Brasil ou de outros países em negociações com o presidente Nicolás Maduro.

Evitar qualquer ação militar na Venezuela é considerada prioridade máxima pelo governo brasileiro. A avaliação é de que uma intervenção justificada pelo combate ao narcotráfico poderia abrir um precedente perigoso, passível de ser replicado em países como Colômbia e México.

No plano bilateral, Brasil e Estados Unidos seguem negociando a retirada das tarifas remanescentes sobre produtos brasileiros e a restituição de vistos revogados de ministros e seus familiares. Uma reunião ministerial estava prevista para novembro, mas a expectativa agora é de que ocorra apenas em janeiro.

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