O fim da super-globalização e as suas consequências políticas atuais

Os economistas clássicos chamavam a ciência econômica de economia política porque, originalmente, o estudo da economia estava inseparavelmente ligado ao Estado, ao poder e às decisões coletivas. Essas questões estão iminentemente associadas ao ambiente político de uma sociedade.

É notório que o ambiente político no mundo, e no Brasil, está sofrendo um processo de modificação de um capitalismo liberal para um capitalismo iliberal. Martin Wolf, principal colunista econômico do Financial Time, usa a distinção entre capitalismo liberal e capitalismo iliberal para mostrar que o capitalismo pode funcionar com instituições muito diferentes, algumas compatíveis com a democracia liberal, outras não. A diferença central não é o mercado em si, mas as instituições que o governam.

O Capitalismo liberal é um sistema de mercado ancorado em instituições liberais, tais como, Estado de Direito, Democracia, Liberdades Civis, Concorrência e Limitação do poder político e econômico. Já o capitalismo iliberal se assenta em instituições que se caracterizam por não terem liberalismo político pleno, onde o poder é concentrado, o Estado é forte, mas arbitrário. Mercados existem, mas são politicamente controlados e as elites econômicas dependem da proximidade com o poder.

Instituições são as regras que moldam as interações humanas do ponto de vista político, social e econômico. Na hierarquia do estabelecimento das instituições temos a primazia do mundo político, que define as instituições políticas e estas definem as instituições econômicas e, estas, as instituições sociais.

A globalização foi uma ideia que surgiu em um mundo em que os políticos acharam que com o debacle da União Soviética o capitalismo liberal teria vencido o embate contra o socialismo, uma forma iliberal de governo. As instituições políticas privilegiaram o multilateralismo e a integração de suas economias em cadeias de fornecimento de suprimentos e produtos acabados. Isto resultou no que ficou conhecido como Globalização.  Seu exagero foi o que denomino de Super-Globalização.

A crise financeira de 2008 e a pandemia de Covid mostraram que a solução de Super-Globalização não era muito saudável do ponto de vista político e econômico. Não se pode aceitar que apenas dois países concentrassem 80% do fornecimento dos suprimentos para enfrentar a pandemia. Da mesma maneira, não se pode aceitar que o fornecimento das matérias primas essenciais para a indústria de tecnologia de informação, motor principal da economia atualmente, chamada de terras raras, esteja quase todo concentrado em um único país. A excessiva integração financeira mundial quase cria uma catástrofe econômica com a crise dos subprimes de 2008 nos EUA.

Os países passaram a achar que era mais saudável ter o fornecimento de matérias primas essenciais nas suas próprias economias ou em economias de países cuja influência política fosse grande. Tal movimento tem como consequência o estabelecimento de novas alianças regionais, por bem ou por mal. A Ucrania ameaçou entrar na área de influência da União Europeia.  Resultado, a Rússia a invadiu e estabeleceu uma política de submissão das antigas repúblicas soviéticas.

A China não aceita que Taiwan, uma ilha que concentra uma vasta produção de artigos necessários para a indústria de tecnologia de informação, seja independente e ligada politicamente aos EUA. Além do mais, impõe sobre seus vizinhos decisões claramente não liberais ao contestar as regras que delimitam o que se denomina de águas nacionais, afirmando que boa parte dos oceanos próximos a ela estão dentro de seu território de águas nacionais com a intenção de controlar o comércio da região.

Os EUA reafirmam a Doutrina Moore e não se envergonham de achar que a América Latina é seu quintal. As ações na Venezuela é uma maneira de dizer que quem não aceitar a regras americanas no seu quintal terá um porrete na cabeça para aprender a não ser insolente.

A Europa esta perdida em suas próprias contradições. Precisa da mão de obra dos imigrantes, mas votam em partidos que os demonizam. Só para se ter uma ideia, a Itália em 2040 terá um decréscimo de 20% em sua população, mas o atual governo é exercido um grupo político que acha que os imigrantes são o principal problema nacional.

Por fim e ao cabo, o mundo caminha para o fim da Super-Globalização e para uma sociedade capitalista, mas iliberal. Caminha para o estabelecimento de três esferas de controle. A americana, a russa e a chinesa. Onde o Brasil vai estar? Esta é a pergunta que precisa de uma resposta urgente.

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