Brasilianista é o termo usado para definir acadêmicos estrangeiros — inicialmente, sobretudo norte-americanos — que se dedicam ao estudo do Brasil em áreas como história, política, economia e cultura. A expressão ganhou força durante a Guerra Fria, quando, após a Revolução Cubana em 1959, os Estados Unidos passaram a considerar estratégico compreender de forma mais profunda os países latino-americanos.
Na década de 1960, temendo que o exemplo cubano se espalhasse pela América Latina, o governo norte-americano criou programas de pós-graduação voltados à pesquisa sobre as nações vizinhas. Os brasilianistas que surgiram nesse contexto ficaram conhecidos como “os filhos de Castro”, denominação irônica utilizada para designar estudiosos interessados em interpretar a política brasileira no período republicano.
O historiador Thomas Elliot Skidmore, considerado o maior entre os brasilianistas, relatou que o termo foi criado pelo jornalista brasileiro Francisco de Assis Barbosa, impressionado com o número de pesquisadores norte-americanos dedicados a estudos sobre o Brasil na Universidade de Wisconsin. Entre esses estudiosos destacam-se nomes de grande relevância: Albert Fishlow, Werner Baer, Robert Levine, Ralph Della Cava, Joseph Love, Warren Dean, Riordan Roett, Stuart Schwartz, Kenneth Maxwell e o próprio Thomas Skidmore.
Após o golpe de 1964, o acesso de pesquisadores brasileiros aos arquivos públicos sofreu severas restrições, de forma distinta da experiência dos pesquisadores estrangeiros. Um caso emblemático foi o do historiador norte-americano Robert Levine, da Universidade de Miami, que, ainda nos primeiros anos da ditadura, recebeu autorização para consultar livremente documentos do DOPS – Departamento de Ordem Política e Social. A facilidade concedida a estrangeiros provocou protestos entre intelectuais brasileiros, perseguidos e frequentemente impedidos de trabalhar. Havia desconfiança de que a ditadura militar preferisse permitir pesquisas que resultassem em interpretações consideradas “adequadas” pelo regime, enquanto acadêmicos brasileiros eram vigiados e silenciados. Também surgiram críticas ao fato de que a organização e o estudo de documentos históricos estivessem sendo entregues a estrangeiros, o que poderia representar uma desvalorização das competências nacionais.
Com a redemocratização, essas tensões diminuíram. Parcerias produtivas foram estabelecidas entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros, favorecendo a elaboração de interpretações mais amplas sobre o desenvolvimento econômico e social do Brasil, difundidas internacionalmente.
Os brasilianistas contribuíram profundamente para revitalizar a memória histórica do país, apoiando a criação de centros de pesquisa e documentação responsáveis por preservar arquivos contemporâneos e coleções privadas. Além disso, introduziram novas áreas de investigação e exploraram fontes documentais até então pouco utilizadas.
Com o fim da Guerra Fria, o interesse estratégico dos Estados Unidos pela América Latina — e pelo Brasil — diminuiu, uma vez que a ameaça de expansão soviética praticamente desapareceu. Ainda assim, o legado dos brasilianistas permanece significativo: eles ajudaram a ampliar a historiografia brasileira, resgatar documentos importantes, fundar centros de pesquisa e oferecer novas perspectivas que contribuíram para a profissionalização e internacionalização dos estudos sobre o Brasil.
