Joesley Batista viaja à Venezuela para tentar convencer Maduro a renunciar a pedido de Trump

Reportagem da Bloomberg aponta empresário brasileiro como mediador informal na crise entre Estados Unidos e regime venezuelano

Joesley Batista
Foto: Danilo Verpa/Folhapress

Joesley Batista, um dos controladores da JBS e da holding J&F, viajou a Caracas na semana passada para tentar convencer o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a aceitar um pedido do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para renunciar ao cargo e permitir uma transição pacífica de poder. A missão, revelada em reportagem da agência Bloomberg, foi descrita por fontes ouvidas pela publicação como uma tentativa de reduzir as tensões entre Washington e o regime venezuelano em meio à escalada de ameaças militares.

De acordo com a Bloomberg, Batista se reuniu com Maduro em 23 de novembro, poucos dias depois de Trump ter telefonado para o líder venezuelano para pressioná-lo a deixar o poder. Integrantes do governo norte-americano estavam cientes da viagem e da intenção do empresário de reforçar a mensagem do presidente dos EUA, mas, segundo as fontes, ele não foi enviado oficialmente em nome da Casa Branca e agiu por iniciativa própria.

A J&F, holding da família Batista, confirmou à agência que o empresário não atuou como representante de governos. “Joesley Batista não é representante de nenhum governo”, afirmou a companhia em comunicado, sem oferecer outros comentários. A Casa Branca, o Ministério da Informação da Venezuela e o gabinete da vice-presidente Delcy Rodríguez não responderam aos pedidos de posicionamento sobre a visita.

A ofensiva de Batista ocorre em um momento de forte tensão militar na região. O governo Trump ameaçava ordenar ataques em solo venezuelano após meses de ações letais contra embarcações acusadas de participação no tráfico de drogas nas proximidades das costas da Venezuela e da Colômbia, em operações que, segundo a imprensa americana, deixaram dezenas de mortos. Washington acusa Maduro de liderar um esquema de narcotráfico ligado ao chamado Cartel de los Soles e considera o regime ilegítimo, resultado de eleição contestada e marcado por denúncias de fraude.

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A Bloomberg relata que a investida de Joesley se soma a iniciativas paralelas de diplomatas, investidores e emissários, como o enviado norte-americano Richard Grenell e representantes do Catar, todos tentando construir uma saída negociada que evite uma escalada de ataques e um conflito aberto. Os cenários discutidos variam em relação ao tempo de permanência de Maduro no poder e à possibilidade de exílio, mas têm em comum a busca por um acordo que reduza a tensão entre Caracas e Washington.

O perfil do empresário ajuda a explicar sua atuação como mediador informal. A JBS, controlada pela família Batista, é a maior produtora de proteína animal do mundo e proprietária da Pilgrim’s Pride, empresa de frango com sede no Colorado que doou US$ 5 milhões ao comitê de posse de Donald Trump, a maior contribuição individual registrada à época. A companhia também mantém relação antiga com a Venezuela, incluindo um acordo de cerca de US$ 2,1 bilhões para fornecimento de carne bovina e frango em meio à grave escassez de alimentos e à hiperinflação no país.

A trajetória de Joesley Batista, porém, é marcada por controvérsias. Ele se tornou um dos símbolos do ciclo de “campeãs nacionais” apoiadas pelo BNDES durante governos anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva, à frente de uma empresa que foi a maior financiadora de campanhas nas eleições de 2014. Anos depois, admitiu o pagamento de propina a centenas de políticos e protagonizou um dos maiores escândalos recentes da política brasileira ao gravar, em 2017, uma conversa com o então presidente Michel Temer como parte de acordo de delação premiada, episódio que derrubou a Bolsa e ficou conhecido como “Dia do Joesley”.

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