Operação no Rio: Quase metade dos mortos não tinha mandado de prisão nem antecedentes criminais

Relatório revela que mais de 50 dos 115 identificados não eram procurados pela Justiça nem tinham acusações formais

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

BRASIL 247 – A lista divulgada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre os 115 civis assassinados na chacina nos complexos da Penha e do Alemão mostra que, em 54 casos, não havia mandado de prisão ou informação suficiente para confirmar antecedentes criminais, segundo informação divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo.

O relatório inclui dados pessoais, registros de identidade, perfis de redes sociais e histórico criminal. A ação policial, que deixou 121 mortos — entre eles quatro agentes de segurança —, foi uma das mais letais da história recente do estado.

Entre os mortos, todos homens, 44 nasceram no Rio de Janeiro. A média de idade é de 28 anos, com o mais novo de 14 anos e o mais velho de 55. Em um terço dos casos, o nome do pai não constava no registro civil.

Apesar de a Polícia Civil afirmar que 49,5% dos mortos tinham mandados de prisão ou de busca e apreensão, o dado que mais chama atenção é o oposto: mais de 50 deles não eram procurados pela Justiça ou não tinham registros que indicassem envolvimento com crimes. Um dos exemplos é Ronaldo Julião da Silva, de Campina Grande (PB), que, segundo o relatório, “não possui anotações criminais e não figura como autor ou envolvido em registros de ocorrência”.

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O relatório também mostra que 12 dos mortos eram apontados como lideranças do Comando Vermelho (CV) em outros estados. A polícia cruzou informações de redes sociais para identificar possíveis vínculos com o grupo, relacionando perfis que exibiam símbolos ou bandeiras associadas à facção. Contudo, mesmo entre os 12 citados, dez não tinham antecedentes criminais.

A análise de dados digitais incluiu postagens, fotografias e até supostos “apagamentos de perfil”, interpretados pelos agentes como tentativa de eliminar provas. Essa metodologia de investigação foi alvo de críticas de especialistas em direitos humanos, que alertam para o risco de criminalização sem base judicial.

A chacina, que mobilizou mais de 2,5 mil agentes, terminou com apreensões de fuzis, granadas, drogas e veículos. Mas o número elevado de mortos e a falta de mandados judiciais para grande parte deles reacenderam o debate sobre o uso da força e o controle das ações policiais em comunidades do Rio de Janeiro.

Os dados da Polícia Civil, divulgados quase uma semana após a ação, evidenciam o perfil social das vítimas: homens jovens, em sua maioria nascidos no estado, e muitos sem registro paterno. O levantamento reacende questionamentos sobre a eficácia das operações de confronto e os impactos da política de segurança pública adotada no Rio.

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