All in – Jogo arriscado

Tarcísio afirmou que concederia indulto a Bolsonaro, caso eleito presidente - Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR

Tarcísio de Freitas é provável candidato à presidência da República em 2026, possivelmente com o apoio do centrão e de parte relevante do empresariado. Dá como favas contadas o apoio da direita não bolsonarista e da centro-direita. Entretanto, essa base pode não ser suficiente para derrotar Lula.

Para ser competitivo precisa da direita bolsonarista, leia-se, ser indicado por Bolsonaro. Acredita que liderando o movimento por anistia ampla geral e irrestrita aos envolvidos na tentativa de golpe de estado, terá esse apoio. A estratégia é complexa e envolve riscos consideráveis.

Pesquisas estimam que a direita representa cerca de 36% do eleitorado, dos quais um terço, 12%, seria bolsonarista. Supondo que a família Bolsonaro unida apoiasse Tarcísio e que todos os eleitores bolsonaristas votassem nele, 12% seria o teto. Aqui anota-se a primeira dúvida razoável. Será que esposa e filhos abdicariam da herança para alguém de fora da família? Não esquecer o diálogo de Eduardo com o pai – o do “ingrato do c…”. Jair, anistiado, resistiria às pressões familiares para que um deles fosse o seu indicado? Desejaria resistir?

Interessa a Bolsonaro uma anistia que não seja ampla o suficiente para ser ele o candidato? Como reagiria o governo Trump, que joga pesado no apoio do ex-presidente, se ele “desse uma fraquejada” e desistisse de seguir abraçado com seus patrocinadores até o fim? Não parece realista imaginar a sobrevivência do bolsonarismo sem Bolsonaro no poder. Como não parece razoável imaginar alguma relevância do cidadão Jair Bolsonaro, com outra liderança da direita no poder. Para ter espaço na mídia, só criticando o governo. Quieto, rapidamente seria passado.

Para a sobrevivência política de Bolsonaro, caso não seja ele o candidato vencedor – ou algum outro do mesmo sobrenome – seria desejável a esquerda ganhar. Única possibilidade de continuar relevante, liderando a oposição.

A guinada de Tarcísio para a extrema direita muda profundamente a imagem que cultivava: de político moderado com formação técnica. Ficou mais parecido com os radicais da cepa de Malafaia e Sóstenes Cavalcante, o que provavelmente vai levá-lo a perder apoios do centro e da direita democrática. O preço a pagar parece alto demais por um produto que pode ser menor do que apresentado e que corre risco de não ser entregue.

Por qual partido Tarcísio concorreria? Pelo PL, reduto da extrema direita cada vez mais radicalizada? Se assim fosse, como ficaria o centrão que, pragmático, não é de passar cheque em branco? Outro aspecto a considerar é se interessa à direita e ao centrão jogar todas as fichas em apenas um candidato já no primeiro turno.

O mais provável é que vários concorram e disputem, no voto, quem iria ao segundo turno. O leque de opções daria a exata medida do capital político do bolsonarismo e permitiria a escolha de um candidato que atendesse a todo o espectro da direita. Nunca é demais lembrar que já se apresentaram vários pretendentes no campo da direita e do centro. Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Ratinho Jr e Eduardo Leite.

Finalmente, o risco nada desprezível de surgir um candidato tipo Pablo Marçal. A péssima imagem dos políticos e dos partidos junto à população tem favorecido candidatos identificados, com ou sem razão, como contra o sistema. Sobram os eleitores pêndulo, não identificados com qualquer dos polos da radicalização e que têm comportamento imprevisível.

O jogo apenas começa.

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