Bazar celestial   

Sou da geração de Jarbas Mariz, com quem convivi no tempo dos Selenitas, bem antes de sua ida para São Paulo onde veio a fazer sucesso na banda que acompanhava o tropicalista Tom Zé em suas apresentações.

De modo que só vim conhecer seu irmão Jaceguai muitos anos depois, em Barra de Camaratuba, praia do litoral norte que é um paraíso de surfistas com suas ondas gigantes e cenário paradisíaco.

Bem depois da sua volta de São Paulo, onde morou durante anos atuando como psiquiatra e fazendo amigos que era a sua maior especialidade.

Mas, apesar de nos encontrarmos aqui e ali em Mataraca, até mesmo porque tínhamos um grande amigo em comum que é Ivan Burity, só viemos a interagir de fato há pouco mais de um ano na praia de Intermares, onde ele morou até a sua morte.

Foi aqui, também um paraíso de surfistas, que iniciamos uma rápida e intensa relação de amizade, com direito a café na padaria do bairro e a incursões em bares e restaurantes para beber cachaça e cerveja e jogar conversa fora.

Mas, foi mesmo no seu amplo apartamento, onde pude conhecer a contento a sua veia criativa e respeitar a sua vocação para colecionador de arte.

Estava e está tudo ali. Edições históricas, obras de pintores no início de carreira, algumas obras autorais e também muita HQ.

Ele era, de fato, aficionado por quadrinhos, de Manara a Will Eisner.

Pois é, e foi diante de todo esse acervo e hipnotizado com tantas preciosidades que surgiu a ideia de se fazer um bazar.

Até mesmo, porque ele se queixava que não tinha para quem legar tamanha riqueza cultural.

E argumentava que seria necessário muito espaço para acomodar tanto conhecimento.

E foi com esse pensamento que evoluímos, um pouco antes de sua passagem, para um formato menos invasivo com a participação de pequenos grupos de colecionadores.

Agora, com a sua morte prematura, ficamos pelo caminho.

Num de nossos últimos encontros, quando conversamos enquanto ele pintava um ônibus, me pediu para ver um bom fotógrafo porque queria recuperar algumas fotos antigas.

E abriu várias caixas com centenas delas, inclusive com registros de sua única filha.

É que, a seu modo, apesar da psiquiatria, não era louco e nem era Gogol, mas também tinha o seu diário.

Que descanse em paz.

Gostava dele. Vai fazer falta

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