A COP30 divulgou nesta sexta-feira (21) um novo rascunho do pacote de decisões que retirou toda e qualquer referência a um roteiro de transição para longe dos combustíveis fósseis, ponto considerado central por dezenas de países nas negociações climáticas. A menção a um plano para eliminar o desmatamento também desapareceu do texto, aumentando críticas à presidência brasileira da conferência e ampliando a pressão internacional nos últimos instantes do encontro.
A mudança no documento gerou reação imediata. Quase 30 países entregaram uma carta à presidência da COP pedindo que o texto volte a incluir o compromisso assumido na COP28, quando as nações concordaram em iniciar a transição energética. “Não podemos apoiar um resultado que não inclua um roteiro para implementar uma transição justa, ordenada e equitativa para longe dos combustíveis fósseis”, diz o documento, citado pelo Carbon Brief. Entre os signatários estão Alemanha, França, Espanha, Áustria, Chile, Colômbia, México, Costa Rica, além de pequenos países insulares como Palau e Vanuatu, que enfrentam risco direto com o avanço do nível do mar.
A União Europeia também expressou frustração. O comissário Wopke Hoekstra afirmou que o texto “não está nem perto da ambição que precisamos”. Organizações ambientais classificaram o rascunho como “fraco” e sem força para limitar o aquecimento global a 1,5°C. O Greenpeace afirmou que o texto “contribui muito pouco para reduzir a lacuna de ambição”, enquanto a ONG 350.org declarou que as propostas ficam “muito aquém do salto gigantesco necessário”. Para a Oil Change International, a ausência de referências aos combustíveis fósseis é “ultrajante”.
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O retrocesso ocorre após dias de impasse entre países defensores da transição energética e nações produtoras de petróleo, especialmente a Arábia Saudita, que rejeita qualquer linguagem que possa limitar a produção. A exclusão do tema também contraria versões anteriores do rascunho que propunham desde opções genéricas até a criação de uma mesa ministerial para orientar os países a desenvolver seus próprios mapas de transição.
Além da questão dos combustíveis fósseis, o novo texto propõe triplicar os recursos globais para adaptação até 2030, mas sem garantir que o financiamento virá de países ricos, ponto considerado sensível por nações em desenvolvimento. O documento também prevê abrir um “diálogo” sobre comércio nas próximas três edições da COP, iniciativa comemorada por países como a China, mas tida como incômoda pela União Europeia por envolver pressões sobre a taxa de carbono europeia.
Em meio a críticas crescentes, a carta dos países opositores pede que a conferência evite um resultado de “pegar ou largar”. Segundo o documento, aprovar um texto fraco pode comprometer “a credibilidade do processo, da presidência e do próprio regime climático”. Nesta sexta, último dia oficial do encontro, pelo menos 15 versões de rascunho circulavam entre os negociadores. A conferência deve ultrapassar o prazo oficial caso não haja consenso.
*Com Folha de S.Paulo

