O Brasil segue atrasado nos pilares que definem a soberania digital e de telecomunicações. Enquanto nações emergentes já tratam o domínio do espaço e da infraestrutura de dados como questão de segurança nacional, seguimos dependentes de satélites estrangeiros e de empresas que controlam, de fora, o fluxo de informação sobre o nosso próprio território. Falta uma política clara que una defesa, conectividade e inovação tecnológica. O resultado é um país gigante em extensão, mas pequeno em autonomia digital.
O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), lançado em 2017, poderia ter sido o início de uma estratégia robusta. Mas ficou subutilizado, sem continuidade industrial, sem integração com políticas de inclusão digital ou defesa cibernética. Enquanto isso, o mundo avança para constelações de satélites de baixa órbita (LEO) e para comunicações direct-to-device, que permitem conectar diretamente celulares via satélite uma revolução que o Brasil assiste de longe, com regulação lenta e investimentos fragmentados.
Siga o canal do WSCOM no Whatsapp.
Empresas privadas, como a Starlink, de Elon Musk, já possuem autorização da Anatel para operar milhares de satélites de baixa órbita sobre o território brasileiro garantindo conectividade em regiões onde o Estado é ausente. No entanto, esses satélites não pertencem ao governo do Brasil, nem a empresas nacionais. Hoje, o país conta com pouquíssimos ativos espaciais próprios e depende, em larga escala, de constelações estrangeiras para se manter conectado. É o retrato de uma soberania que terceirizou sua própria órbita.
A ausência de uma agenda nacional de soberania digital não é apenas um problema técnico, é uma vulnerabilidade estratégica. Cada gigabyte que depende de redes ou satélites estrangeiros representa dados, decisões e defesas que não estão sob o nosso controle. Fala-se muito em 5G e inteligência artificial, mas sem infraestrutura própria, o país continuará apenas consumindo tecnologia, sem dominar sua base crítica. A soberania digital começa onde termina a dependência tecnológica.
Para o cidadão comum, o tema pode parecer distante, mas é simples: quando o Brasil “aluga” infraestrutura digital, está literalmente pagando para usar o que deveria ser seu. É como depender de um país vizinho para acender a luz da sua própria casa. Sai mais fácil e rápido assinar contratos com empresas estrangeiras do que planejar, investir e construir nossos próprios sistemas. Essa lógica imediatista destrói a autonomia nacional e impede o país de formar uma base tecnológica sólida. O governo precisa entender que soberania não se terceiriza se constrói, com visão de Estado e investimento contínuo.
O Brasil precisa voltar a pensar grande. Investir em satélites próprios, em centros de controle nacionais, em regulação proativa e em políticas industriais que formem uma cadeia produtiva nacional. Não se trata de nacionalismo digital, mas de visão estratégica. Sem domínio do espaço e das redes, o país seguirá preso à lógica da terceirização do futuro e nenhuma nação se torna potência alugando sua própria conectividade.
