A tragédia que manchou a Cidade Maravilhosa

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

É muito triste ver a “cidade maravilhosa” tornar-se, de vez em quando, palco de espetáculos de horror. Nesta semana, acompanhamos o noticiário que mostra o Rio de Janeiro, mesmo com seus encantos mil, transformar-se em cenário de uma chacina jamais vista em sua história. A pretexto de combater o crime organizado, o governo estadual empreendeu uma operação policial desastrosa que aterrorizou não apenas os cidadãos cariocas, mas também todos os que costumam visitar a cidade para desfrutar de suas belezas. O que se viu foram cenas dignas de campos de guerra. Naturalmente, o episódio repercutiu no mundo inteiro, abalando a imagem da cidade que encanta turistas de todas as partes.

O que causa perplexidade é constatar que essa forma violenta e irresponsável de enfrentar o grave problema do domínio territorial do narcotráfico — que resultou na morte de mais de uma centena de pessoas, incluindo quatro policiais — tenha levado alguns governadores de outros estados a se deslocarem ao Rio de Janeiro para manifestar apoio ao colega responsável por essa carnificina, transformando a tragédia em discurso político-eleitoral. Causa espanto ver um governador declarar publicamente que considera vitoriosa uma operação policial que invade comunidades pobres e pratica execuções. Não se combate o crime organizado praticando o extermínio, gerando medo e desorientação social.

A gestão da segurança pública exige que ações dessa natureza sejam precedidas de planejamento, inteligência e uso de estratégias adequadas, sem que sejam executadas isoladamente por governos estaduais, como se buscassem o protagonismo de heróis solitários. Quando o exercício da autoridade se dá pela violência, o resultado é a barbárie, como se observou nesse massacre. É preciso ter cuidado para não deixar a população sem policiamento, aumentando a vulnerabilidade coletiva em razão da mobilização de grandes efetivos para essas megaoperações. Especialmente as pessoas que vivem nas comunidades dominadas pelo tráfico, pois são constantemente pressionadas entre dois polos de ameaça: a polícia e os criminosos.

A expansão do crime organizado é um problema de extrema gravidade que precisa ser enfrentado de forma articulada, envolvendo a participação conjunta da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e, se necessário, das Forças Armadas — dividindo responsabilidades por acertos e erros. Só assim será possível obter resultados efetivos no combate a essas organizações que comandam o narcotráfico, intensificando o cerco aos “grandões”, em vez de promover o extermínio do baixo escalão do crime.

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