Desde meados do mês de agosto de 2025, o professor e militante comunista Jones Manoel vem recebendo diversas ameaças explícitas de morte, racismo, exposição de dados pessoais e extorsão.
Desde a primeira mensagem de ameaça, recebida no dia 20 de agosto através do endereço de e-mail da prefeitura de Porto Velho, os advogados que prestam serviços voluntários ao ativista solicitaram que o MPF (Ministério Público Federal) acionasse a Polícia Federal para investigar o caso.
O remetente do e-mail enviado conseguiu acesso aos tipos de vacina contra a COVID-19 que Jones tomou durante a pandemia, além de números e horários de vôos de, pelo menos, sete viagens que ele realizou. O MPF afirmou que o caso é de responsabilidade do Ministério Público estadual de Rondônia.
Em nota, o MPF confirmou que “declinou da competência ao Ministério Público do Estado de Rondônia conforme entende jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no sentido que a competência para julgar tais fatos é do local de onde partiram as falas racistas”.
O MPRO (Ministério Público de Rondônia, por sua vez, sequer respondeu se havia alguma investigação em andamento sobre o caso.
Em 18 de outubro de 2025, um grupo que se intitula como braço brasileiro do grupo neonazista Atomwaffen Division proferiu novas ameaças a Jones Manoel, ridicularizando, inclusive, a tentativa de pedir investigação da PF.
“Negrinho… Acha mesmo que a bosticia federal dessa latrina chamada Brasil (narco estado cheio de macacos levando vantagem) conseguiria fazer o mínimo de dano que seja na nossa organização com a operação extremamente protegida e bem reforçada? A real é que você mexeu com fogo, seu macaco feio. Teve a chance de pagar na vez anterior e foi chorar na televisão”, diz a mensagem, proveniente do e-mail institucional de uma funcionária do Hospital Regional de Pombal, na Paraíba.
“E agora, que o e-mail usado foi do governo da Paraíba, o MPF vai dizer que a investigação ao MP da Paraíba?”, questionou Jones Manoel.
No próximo dia 30 de outubro, os advogados de Jones Manoel irão a Brasília para se reunirem com representantes do MPF e contarão com o apoio da CNDH (Comissão Nacional de Direitos Humanos).
“Pelos elementos que foram colocados na ameaça, trata-se de uma demanda internacional, não só por ter sido praticado no âmbito da internet com indícios de internacionalização”, argumentou Nicodemos. O Attomwaffen Division é considerada uma organização terrorista pelo Reino Unido, Canadá, Itália, Austrália, Estônia e Áustria. Segundo ele, por essa razão, o Conselho insistiu junto ao MPF que “chame para si essa responsabilidade de promover a investigação centralizada desses ataques que são sucessivos e contínuos”, disse Carlos Nicodemos, conselheiro e relator da comissão especial para o Enfrentamento ao Discurso de Ódio e Crescimento do Neonazismo no Brasil.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania emitiu uma nota para anunciar que a equipe do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas está “acompanhando as denúncias” e mantendo “interlocução com as autoridades competentes e com as partes envolvidas”.
