Ainda vale a pena investir cinco anos em uma faculdade?

“Pra que faculdade se posso ganhar dinheiro no TikTok?”

Essa talvez seja a pergunta que melhor define o dilema da nova geração. Enquanto muitos jovens da Geração Z abandonam a universidade, outros encontram nas redes sociais, no dropshipping, na Tiktok Shop, no YouTube Shopping e em freelas internacionais um caminho rápido e aparentemente mais inteligente para ganhar dinheiro e conquistar liberdade.

Mas será que esse modelo é sustentável no futuro?

A maior evasão da história

Os números falam por si.

Segundo dados recentes do Inep, o Brasil registra hoje uma taxa de evasão universitária de 57,2%, somando redes pública e privada. E o que chama mais atenção: o ensino a distância (EAD), que antes prometia democratizar o acesso, é onde a evasão é maior, com 64% dos alunos abandonando o curso antes de concluir.

Mesmo assim, o EAD continua crescendo. Em 2024, pela primeira vez, o Brasil teve mais alunos matriculados em cursos a distância (50,7%) do que presenciais, com um aumento de 326% em dez anos.

Esse cenário reflete uma mudança de comportamento. Os jovens querem aprender, mas não necessariamente dentro da sala de aula tradicional. Querem praticidade, velocidade e conexão com o mercado real, coisas que o modelo universitário, na maioria dos casos, ainda não entrega.

O diploma perdeu o brilho?

O relatório Education at a Glance 2025, da OCDE, traz um dado interessante: no Brasil, quem tem ensino superior ganha 148% a mais do que quem possui apenas o ensino médio. É o dobro da média dos países da OCDE.

Ou seja, o diploma ainda paga bem, mas cada vez menos jovens se dispõem a conquistá-lo. Apenas 24% dos brasileiros entre 25 e 34 anos concluíram a graduação. O problema não é a falta de retorno financeiro, e sim o descompasso entre o que o ensino oferece e o que o mercado demanda.

Enquanto o professor fala sobre teorias de marketing de 1998, o aluno já está vendendo produtos na Tiktok Shop, criando vídeos virais e faturando em dólar em plataformas como Upwork e Fiverr. O mundo mudou, e a sala de aula parece continuar parada no tempo.

O fascínio do ganho rápido

E há motivos para tanto fascínio.

Pesquisas mostram que cerca de 50% dos criadores de conteúdo no Brasil ganham até R$ 5 mil por mês, e uma parcela crescente ultrapassa os R$ 10 mil mensais com monetização, infoprodutos e parcerias.

Na Hotmart, criadores especializados chegam a faturar R$ 12 mil em média. Isso sem diploma, sem estágio e sem esperar cinco anos para o primeiro salário.
Enquanto isso, o recém-formado em Administração ou Direito inicia sua carreira com remunerações médias entre R$ 2.500 e R$ 4.000, muitas vezes em trabalhos exaustivos e com poucas oportunidades de crescimento.

Diante disso, é compreensível o apelo do digital: dinheiro mais rápido, liberdade geográfica e validação social imediata.

Mas há um porém. Apenas uma minoria sustenta ganhos altos no longo prazo. As plataformas mudam, os algoritmos punem, as tendências esfriam, e quem não se adapta desaparece. O sucesso digital é tão volátil quanto o engajamento de um vídeo no “For You”.

A faculdade ainda é essencial, mas precisa se reinventar

Apesar do caos, a universidade ainda tem papel insubstituível em muitas áreas.

Profissões como Medicina, Engenharia, Direito e Psicologia exigem rigor técnico, responsabilidade social e certificação formal. Um médico não pode aprender cirurgia pelo YouTube, e um engenheiro não pode projetar uma ponte com base em um tutorial do TikTok.

Mais do que um diploma, a universidade representa um espaço de maturação intelectual, convivência e pensamento crítico. Três coisas que o mundo digital, por mais poderoso que seja, ainda não substituiu.

O problema é que o modelo universitário precisa se reinventar. E rápido.

O ensino superior foi pensado para um mundo industrial, mas estamos na era da informação exponencial. Ainda seguimos grades curriculares engessadas, avaliações antiquadas e professores desconectados do mercado real. Enquanto isso, o aluno já vive em outra lógica: inteligência artificial, empreendedorismo digital e globalização. Ele quer aprender a criar, não apenas decorar.

Um novo pacto educacional

Talvez o desafio não seja escolher entre faculdade e mercado digital, e sim encontrar um ponto de convergência entre os dois mundos.

O futuro da educação não está mais na transmissão de conteúdo, mas na curadoria de experiências de aprendizado.
A universidade precisa formar líderes criativos, inquietos e capazes de resolver problemas reais, não apenas emitir diplomas.
E isso exige coragem institucional.

Significa abrir espaço para disciplinas sobre IA, automação, economia criativa, finanças digitais e design de futuros.
Significa também trazer o mercado para dentro da academia, convidando profissionais da nova economia para lecionar, criar hubs de inovação e incubadoras de startups universitárias.

O aluno do futuro não quer apenas um título. Quer competência, propósito e aplicabilidade imediata.

E se a geração Z estiver certa?

Talvez, no fundo, a Geração Z não esteja desinteressada.

Ela apenas cansou de esperar. Cresceu vendo seus pais dedicarem anos de estudo e ainda assim lutarem por estabilidade.
Agora, descobriu um atalho: o conhecimento está aberto, gratuito e global. O YouTube virou sala de aula. O ChatGPT virou tutor. O mundo virou escola.

O risco é confundir autonomia com imediatismo. Aprender sozinho é ótimo, mas sem base crítica e sem profundidade, a informação vira ruído. E sem disciplina, qualquer talento se perde no feed.

Educação como investimento, não custo

Essas reflexões são importantes para esse exercício de impacto na nova sociedade que se constrói com a nova geração.
Eu acredito profundamente na educação. Carrego cinco TCCs feitos, um da graduação e quatro dos meus MBAs, além de dezenas de cursos e certificações.

Mas também não fecho os olhos para o ganho digital escancarado e democrático que temos hoje à disposição dos curiosos, talentosos e perseverantes. A educação formal ainda é um pilar de sustentação social. O digital, por sua vez, é a ferramenta de democratização do conhecimento. O desafio é unir os dois, sem arrogância acadêmica nem ilusão de atalhos.

O que vem a seguir

No fim das contas, a pergunta não é se a faculdade ainda vale a pena, mas como ela pode continuar valendo a pena.
O futuro do trabalho será híbrido: diplomas continuarão abrindo portas, mas habilidades reais serão o que manterão as portas abertas.

O diploma não morreu.

Ele só precisa reaprender a dialogar com o mundo que os algoritmos criaram.

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