Documento falso, conhecido historicamente como o Plano Cohen, foi divulgado no dia 30 de setembro de 1937 pelo chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, no programa radiofônico Hora do Brasil. O objetivo era justificar a adoção de medidas repressivas como reação a uma suposta conspiração armada articulada por organizações comunistas internacionais, que previa a eliminação de chefes militares, a agitação de operários e estudantes e a derrubada do governo Getúlio Vargas.
Segundo o então capitão Olímpio Mourão Filho, na época chefe do Serviço Secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB) — o mesmo que iniciaria a marcha que resultou no Golpe de 1964 —, ele teria sido o responsável pela preparação do documento. O ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, ao receber do general Pompeu Cavalcanti uma carta expondo seu ponto de vista contrário ao movimento, mandou prendê-lo e o destituiu do comando do Distrito de Artilharia de Costa.
No dia seguinte, o governo Vargas, diante da “ameaça vermelha”, solicitou ao Congresso Nacional a decretação do Estado de Guerra, aprovado por 138 votos a 52. Essa medida abriu caminho para uma ampla perseguição a comunistas e demais opositores do governo. Pouco depois, em 10 de novembro, forças policiais cercaram os Palácios Monroe e Tiradentes, onde funcionavam, respectivamente, o Senado e a Câmara de Deputados, inaugurando o Estado Novo. Usurpando as funções do Poder Legislativo, Getúlio passou a assinar decretos-leis. As casas legislativas estaduais e municipais também foram fechadas. Na condição de ditador, o chefe do Executivo arrogou-se o direito de nomear governadores e prefeitos. As agremiações partidárias desapareceram e as liberdades individuais foram suspensas. Uma nova Constituição, elaborada por Francisco Campos, foi imposta ao país.
Não houve resistência significativa à dissolução do Congresso. Alguns senadores e deputados, embora destituídos de seus mandatos, compareceram ao gabinete de Getúlio, manifestando concordância com o golpe, igualmente apoiado, de forma espontânea, pela imprensa. O historiador Paulo Sérgio da Silva, autor do livro A Constituição Brasileira de 10 de Novembro de 1937, relata que “boa parte da sociedade brasileira se convenceu de que era urgente centralizar o poder”.
A farsa do Plano Cohen só foi revelada como uma grosseira falsificação em 1945, em meio à crise do Estado Novo, quando o general Góes Monteiro admitiu que tudo não passava de uma fraude para permitir a permanência de Vargas no poder e reprimir qualquer ameaça comunista. Para tentar conferir-lhe autenticidade, seus autores acrescentaram ao final do documento a assinatura do comunista húngaro Béla Cohen, o que fez com que passasse a ser chamado por esse nome. Em suas memórias, o próprio Mourão Filho acusou Góes Monteiro de se apropriar indevidamente do texto, afirmando que ele havia sido elaborado apenas para treinar militantes integralistas sobre como reagir a uma eventual insurreição comunista, sem a intenção de divulgá-lo publicamente.
A farsa cumpriu sua função golpista e permanece lembrada, até hoje, como um dos maiores exemplos de manipulação política da história nacional.