O Valor do Dólar e Trump

Donald Trump
Foto: Isac Nóbrega/PR

No momento que o governo Trump estabeleceu as tarifas em relação aos produtos exportados pelo Brasil, vários analistas econômicos afirmaram que o motivo do estabelecimento foi o fato do governo Lula ter discursado na reunião dos BRICS (Brasil, Rússia, China e África do Sul) realizada no Brasil afirmando que o Dólar deveria ser substituído por alguma outra moeda para o comércio mundial.

Peço vênia para voltar novamente a este assunto, mas, para este missivista, há um movimento crescente de desdolarização, ou seja, a redução do uso do dólar como moeda dominante no comércio internacional. O dólar continua sendo a principal moeda de reserva global, com cerca de 58% das reservas internacionais. Em termos de faturamento comercial, ele ainda é amplamente utilizado, aproximadamente 54% das faturas comerciais globais estão denominadas em dólar.

No entanto, certos países e blocos estão adotando estratégias para reduzir a dependência do Dólar. Os BRICS estão debatendo o uso de suas próprias moedas para transações internas e explorando alternativas ao dólar. Argentina e Brasil já firmaram acordos para usar, respectivamente, o yuan e o real em vez do dólar nas transações. Rússia exige pagamento em rublos para exportações de gás a países não aliados.

A China tem expandido o uso do yuan em acordos comerciais, além de promover seu sistema de pagamentos CIPS (Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços) como alternativa ao SWIFT (Sociedade para a Telecomunicação Interbancária Mundial). Desde 2023, o yuan superou o euro como segunda moeda mais usada no comércio internacional. A Índia e Malásia também têm promovido o uso de moedas nacionais em transações bilaterais.

A China tem avançado com o yuan digital (e CNY) e está criando um centro internacional em Xangai para transacionar esta moeda, além de promover o CIPS com bancos estrangeiros como alternativa de liquidação. Ou seja, há uma tendência real de desdolarização com uso crescente de moedas nacionais, ouro e ativos digitais em certas regiões ou setores econômicos. Porém, o Dólar continua dominante, pois não há um substituto global viável no horizonte imediato. O processo atual é um movimento de diplomacia econômica, diversificação e adaptação, e não uma substituição abrupta.

O que contribui muito para este processo? A atuação do governo Trump. O Dólar é uma moeda fiduciária, ou seja, não possui valor intrínseco, como teria o ouro ou a prata, mas é aceita como meio de pagamento porque as pessoas confiam que ela terá valor, já que é emitida e garantida pelo governo americano através de seu Banco Central.

Para que os países aceitassem o Dólar como meio de troca nas transações internacionais foram feitas algumas exigências. A principal delas foi que o órgão que controlaria o valor do Dólar tinha que ser uma organização de Estado e não de Governo. Os governos podem manipular o valor da taxa de juros interna e, com isto, afetaria o valor da meoda. Por isso o FED é uma organização independente do governo americano de plantão.

Mas o governo Trump está fazendo de tudo para que esta independência seja solapada. Já desferiu várias estocadas contra o presidente, que ele mesmo indicou no seu primeiro mandato e, agora, está exigindo a demissão, sem nenhuma prova de ações desabonadoras, de uma das diretoras. O objetivo é forçar a diminuição da taxa de juros para favorecer o desempenho da economia americana e melhorar a percepção da população americana em relação as ações de seu governo. O efeito colateral disto é diminuir a confiança do mundo no valor estável do Dólar.

Em relação ao Brasil, este comportamento tem um efeito dubio. O governo Lula vivia dando estocadas contra o presidente do Banco Central brasileiro justamente porque queria que o Banco Central diminuísse a taxa de juros para melhorar a percepção dos brasileiros em relação ao seu governo. Agora percebem que isto é um erro. Por outro lado, os bolsonaristas ridicularizavam as investidas de Lula contra o Banco Central brasileiro, mas estão num silêncio sepulcral em relação ao comportamento do governo Trump em relação ao Banco Central americano. Eu acho que é para não melindrar o deputado federal Eduardo Bananinha que está num esforço genuíno de ser o nosso novo Calabar.

Mais Posts

Tem certeza de que deseja desbloquear esta publicação?
Desbloquear esquerda : 0
Tem certeza de que deseja cancelar a assinatura?
Controle sua privacidade
Nosso site utiliza cookies para melhorar a navegação. Política de PrivacidadeTermos de Uso