Direito de resposta, confira resposta do engenheiro Wilton Maia Velez a artigo de Durval Leal Filho sobre ‘mercantilização da água’

Foto: www.freepik.com
Foto: www.freepik.com

Em direito de resposta enviado nesta quarta-feira (4), o engenheiro Wilton Maia Velez respondeu declarações publicadas por Durval Leal Filho a respeito da “mercantilização da água” e da suposta existência de “marajás do saneamento”. No texto, Velez afirma que o autor faz uma denúncia “simbólica e sem evidências concretas”, deixando de apresentar dados, contexto técnico e histórico que sustentem suas críticas. Em seu compromisso com a liberdade de expressão e com a verdade, o Portal WSCOM abre espaço para a publicação do direito de resposta enviado pelo engenheiro, leia abaixo o texto redigido por Wilton:

Siga o canal do WSCOM no Whatsapp.

O texto de Durval Leal Filho tem seu mérito e é louvável por denunciar um problema grave e real: a mercantilização da água como recurso natural e bem comum. O autor chama atenção para o caráter essencial da água e relativiza a ideia de que o saneamento
deve ser tratado como simples mercadoria. No entanto, embora acerte na causa — a defesa da água como bem público, e não como produto comercial — o artigo decepciona pela ausência de propostas concretas, dados robustos ou contextualização histórica e
técnica que fortaleçam seu argumento. Predomina um tom simbólico e retórico (“vender algo que é bem comum e precioso”), mas faltam evidências objetivas sobre os supostos “marajás”: quem são, quais interesses representam e como ocorreria a apropriação
predatória ou exploratória da água no contexto atual.

Essa falta de substância enfraquece a denúncia e abre espaço para ambiguidades interpretativas — o que, a meu ver, é perigoso quando se discute a gestão de um serviço essencial. Além disso, o artigo parece partir do pressuposto de que a privatização — ou mercantilização — é inevitavelmente sinônimo de degradação social e injustiça. Porém, não dialoga com as experiências complexas, tanto positivas quanto negativas, do saneamento no Brasil e no mundo. Tampouco confronta de forma direta os desafios de infraestrutura, regulação, universalização e financiamento que historicamente afetam o setor público. Assim, critica
de maneira justa a mercantilização da água, mas peca pelo reducionismo e pela falta de profundidade analítica.

Essa superficialidade pode comprometer a própria luta pelo saneamento universal, ao reproduzir um discurso moralizante que não constrói um plano estruturado de defesa do serviço público — tarefa que exige clareza técnica, mobilização social e diagnóstico realista. Diante do artigo apresentado por Durval Leal Filho, exponho ponderações fundamentais sobre suas contradições e lacunas argumentativas:

  1. Denúncia simbólica sem evidências concretas. O texto fala de “água vendida como mercadoria” e “marajás do saneamento”, mas não identifica quem seriam esses beneficiários, nem apresenta dados sobre lucros, contratos, tarifas ou desigualdades.
  2.  Ausência de histórico ou contexto técnico. Não há referências a leis, estatísticas, dados de acesso, qualidade da
    água ou histórico de concessões e privatizações. Falta análise sobre o papel do Estado, da regulação e das experiências anteriores do setor no Brasil.
  3.  Visão simplista da privatização. A privatização é tratada como inevitavelmente negativa, sem considerar os
    desafios estruturais do saneamento público ou a necessidade de melhorias em infraestrutura, gestão e investimento.
  4.  Falta de propostas de políticas públicas. Há crítica ao modelo de mercado, mas nenhuma sugestão concreta de fortalecimento do serviço público, de regulação ou de mecanismos democráticos de controle social.
  5.  Risco de discurso moralista e polarizado. O tom moralizante da crítica pode afastar parte da população e tornar o debate mais ideológico do que técnico — justamente o oposto do que se espera quando o tema envolve acesso a direitos básicos.
  6.  Contradições entre simplicidade do texto e complexidade do problema. O autor reduz questões como abastecimento, saneamento e universalização ao tema do financiamento, sem mencionar a necessidade de regulação, distribuição, infraestrutura e, sobretudo, as desigualdades regionais. Assim, o artigo trata tudo como se existisse apenas um único “mal do lucro” a ser combatido.
  7.  Despolitização da luta social. Ao enquadrar o debate como “privado versus público”, sem mapear alianças, atores sociais ou a atuação do Estado, o texto corre o risco de transformar a mobilização em mero antagonismo simbólico, incapaz de gerar mudanças estruturais reais. Diante disso, o artigo acaba trazendo à tona — de maneira, no mínimo, equivocada — o ataque sistemático à remuneração dos servidores, muitas vezes apresentados como “marajás” para justificar cortes, precarização e privatização. E
    é justamente aí que a crítica se mostra insuficiente.

A retórica de que servidores públicos recebem demais, trabalham pouco e vivem de privilégios tem sido repetida por décadas e serve como base ideológica para privatizações, terceirizações e congelamento salarial, especialmente em áreas essenciais como água, saneamento e energia. Ao usar o termo “marajás”, ainda que de forma imprecisa, o autor acaba expondo um problema real: o uso político da desinformação para destruir a imagem do trabalhador público.

O ataque moral ao servidor é um projeto político, não apenas um deslize retórico. Portanto, Durval Leal Filho, é preciso reconhecer que salário justo não é privilégio: é condição para garantir a continuidade e a qualidade do serviço. Se se defende a meritocracia, deve-se admitir que engenheiros, operadores de bombas, químicos, laboratoristas, técnicos e equipes de manutenção precisam ser valorizados para evitar a fuga de profissionais qualificados para o setor privado. Salários adequados, além de atrair e manter talentos, reduzem riscos de corrupção.

A grande maioria dos servidores recebe remuneração modesta, muito distante do que você sugere. Generalizar o termo “marajá” reforça um estigma injusto e prejudica trabalhadores essenciais. Por fim, ao discutir privatização, raramente se menciona os lucros das empresas privadas, a remuneração de seus executivos, as tarifas abusivas ou a importância da participação social no controle do serviço. A sociedade é reduzida ao papel de consumidora — e nada mais. Seu texto, Durval Leal Filho, é rigoroso ao criticar um
lado (o trabalhador), mas não demonstra a mesma disposição para apontar falhas do capital privado que disputa o controle da água.

Lamentavelmente, erra no caminho escolhido para abordar um tema tão complexo. Ainda assim, concordamos em um ponto
essencial: Lembrando que o movimento global de reestatização de serviços de água e saneamento, impulsionado pela má qualidade do serviço, aumento de tarifas e falta de investimento em gestão privada. A tendência é liderada por países como Alemanha, França, Estados Unidos e Reino Unido.

A água, como recurso natural e bem comum, de caráter absolutamente essencial, não pode ser tratada como simples mercadoria. É um direito humano que garante saúde pública, qualidade de vida e dignidade. Água para a vida, não para a mercantilização.

Campina Grande-PB, 04 de dezembro de 2025.

Wilton Maia Velez

Mais Posts

Tem certeza de que deseja desbloquear esta publicação?
Desbloquear esquerda : 0
Tem certeza de que deseja cancelar a assinatura?
Controle sua privacidade
Nosso site utiliza cookies para melhorar a navegação. Política de PrivacidadeTermos de Uso
Ir para o conteúdo